A decana do Centro de Teologia e
Ciências Humanas da PUC-Rio, teóloga Maria Clara Lucchetti Bingemer, ofereceu
aos mais de 200 bispos de todo país que participaram de uma reunião promovida
pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), no dia 25 de novembro,
uma reflexão teológica com seis pistas para um projeto de Evangelização e de
ação pastoral da Igreja Católica no contexto da pós-pandemia.
Aos 297 participantes da reunião,
compreendendo, além dos bispos, os assessores das comissões episcopais e
representantes de pastorais e organismos vinculados à CNBB, Maria Clara
defendeu que as propostas que sistematizou partem do resgate dos aprendizados
feitos.
Autora de diversos livros, entre
eles, ¿Un rostro para Dios?, A globalização e os jesuítas e o Mistério e o
Mundo, a teóloga frisou que é necessário considerar ainda que o mundo está
imerso na vivência dos problemas decorrentes do avanço do novo Coronavírus.
“Ainda nos encontramos dentro da pandemia, vivendo um conjunto de
perplexidades. Estamos há nove meses (tempo de uma gestação de um ser humano)
de joelhos por causa de um vírus invisível”, disse.
Segundo a professora, as pistas
teologais que levantou partem de um exercício de sonhar com o futuro, o que
ajuda a olhar para frente. A professora apontou seis aspectos e pontos
que precisam ser observados numa ação pastoral num contexto do pós-pandemia.
a) Retomar o luto com
olhar Pascal
Segundo a teóloga, a Igreja numa
atitude silenciosa (mais ouvir do que falar) precisa ajudar as famílias que
perderam entes, só no Brasil já somam mais de 175 mil mortos em decorrência da
Covid-19, a processarem o luto. Segundo ela, a Igreja precisa escutar estas
famílias que perderam seus entes queridos e, como agentes do consolo movidos
pelo Espírito Santo, ouvir e rezar a sua dor. “É necessário transformar a dor
em redenção”, disse.
b) Apostar na arte e
beleza
A teóloga defendeu, como forma de
processar o sofrimento e este momento vivido pela humanidade, ser necessário
que a Igreja abra espaço para a expressões da arte que recuperem a beleza e a
estética. “A música, a literatura e arte são elementos preciosos para
reencantar os corações”, disse. Para a professora, a arte é um caminho
para falar de Deus. Os pastores e agentes de pastoral são chamados a ser
‘poetas de Deus’ e construir uma teopoética atravessada de beleza e
gratuidade”, afirmou.
c) Revalorizar o
espaço doméstico
A professora defendeu que, no
contexto da pandemia, redescobrimos uma nova configuração para a Igreja que se
deslocou a vivência da fé dos templos para as casas. Segundo ela, é necessário
ver esta realidade como uma oportunidade para pensar formas de pleno
funcionamento da vida eclesial, o que remonta às próprias fontes e origens do
cristianismo e começo da Igreja Católica. “De casa, nos conectamos por meio da
tecnologia; Na casa, redescobrimos o espaço da família, da celebração da
fé e a perseverança na fração do pão”, disse.
d) Cuidado da Terra e
da Casa Comum
“Somos terra e nosso destino está
inextricavelmente ligado ao destino da terra”, afirmou a téologa para defender
a ideia de que a pandemia nos ajudou a denunciar o nosso estilo de vida não
saudável. Segundo Maria Clara, é necessário aprofundar ainda mais a urgência da
conversão ecológica, defendida pelo Papa Francisco na Encíclica Laudato Sí, com
a fraternidade universal. Frente à atitude predatória do meio ambiente, a
teóloga defendeu que é necessário reforçar que somos terra sobre a qual foi
soprado o Espírito de Deus que anima e dá vida a tudo que está conectado.
e) Fratelli Tutti
A teólogo defendeu que a nova
Encíclica Fratelli Tutti lançada pelo Papa Francisco é uma bússola para os
novos tempos. “À luz do exemplo do Bom Samaritano, o Papa chamou-nos a
atenção de que existe um ferido caído pelo caminho, na estrada” e de que
devemos deixar a ideia de sermos “sócios” para sermos irmãos. Com a Encíclica,
segundo a professora, o Papa também revisitou a opção pelos pobres que são os
que sofreram mais a fundo as consequências da pandemia. “A Fratelli Tutti
defende uma solidariedade nova. A fraternidade humana como um projeto tão
adiado e tão urgente”, apontou.
f) Parceria mais
estreita com a ciência
Num contexto de negação da ciência e
de discursos pseudo-cientificistas, a professora defendeu a importância de a
Igreja se cercar das informações corretas baseadas no conhecimento científico.
Fonte: cnbb.org.br
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