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O poder mágico da telecomunicação empodera quem nela aparece, sobretudo se arroga para si o falar em nome de Deus, de Jesus Cristo ou da Igreja. Pessoas visivelmente despreparadas falam com tanta convicção e arrogância sobre assuntos que não conhecem, que acabam por transmitir uma opinião absurda como se fosse a mais pura verdade", escrevem os Padres da Caminhada e Padres Contra o Fascismo.
Eis a carta.
Nós, presbíteros dos Grupos Padres
da Caminhada e Padres Contra o Fascismo, de todos os Estados do Brasil, sentimo-nos no grave dever de apelar às autoridades
da Igreja Católica Apostólica
Romana para que proíbam a
circulação de informações
falsas ou deturpadas por parte de canais
católicos de televisão.
Há tempos estamos sofrendo com
essas inverdades que
alguns canais católicos disseminam,
confundindo sobretudo o povo simples de nossas comunidades, que os escutam como
se estivessem ouvindo o próprio Deus. Sabemos que, na era da comunicação
eletrônica e das redes sociais
digitais, as instituições
tradicionais perderam seu poder de influência e de respaldo à verdade.
Qualquer líder religioso que
se serve das redes para transmitir suas mensagens, tem garantida a difusão de
sua fala em escala geométrica.
Vivemos hoje uma situação em
que pessoas que possuem escasso conhecimento sobre um assunto acreditam saber
mais que os outros consistentemente preparados. Isso faz com que tomem decisões
equivocadas e cheguem a resultados indevidos. A incompetência restringe sua
capacidade de reconhecer os próprios erros. Estas pessoas apostam numa
superioridade ilusória. Desta forma, o poder mágico da
telecomunicação empodera
quem nela aparece, sobretudo se arroga para si o falar em nome de Deus, de
Jesus Cristo ou da Igreja. Pessoas visivelmente despreparadas falam com tanta
convicção e arrogância sobre assuntos que não conhecem, que acabam por
transmitir uma opinião absurda como se fosse a mais pura verdade.
Em contrapartida, pessoas
muito capacitadas podem diminuir sua autoconfiança e sofrer de inferioridade
ilusória. Estas pessoas, acostumadas à vigilância e à autocrítica constantes,
podem pensar que não são tão capacitadas e passam a subestimar as próprias
habilidades. No limite, chegam a acreditar que pessoas menos capazes são tão ou
mais capazes do que eles.
Há canais e
pregadores que, valendo-se
do título de católicos e
arvorando-se a defensores da ortodoxia, passam por cima da autoridade dos bispos locais, não
sintonizam com a Conferência
Nacional dos Bispos do Brasil e mantêm uma comunhão mais formal
do que afetiva e efetiva com o Papa Francisco. Não há instância externa a eles que os regule,
avalie e se lhes contraponha quando necessário. Podem causar um mal irreparável
tanto na transmissão das verdades da fé quanto na formação da opinião pública, e muitas vezes formam, com aquele meio de
comunicação uma comunidade
de pertencimento, que funciona como um referencial absoluto de suas
informações, ideias, valores, convicções, comportamentos pessoais e sociais.
Neste dramático tempo de pandemia, que já ceifou mais de 2.000.000 de vidas no mundo e
mais de 212.000 no Brasil (nosso país, com 2,7% da população mundial, tem
se mostrado responsável por 10% de óbitos por Covid-19 no planeta!) a Igreja Católica vem se colocando coerente e generosamente a
serviço da vida. Basta ver as atitudes e os gestos
do Papa Francisco e da Conferência
Nacional dos Bispos do Brasil e da REPAM.
Por isso, é inadmissível que,
na contramão, pregadores católicos despreparados,
quando não ideologizados, minimizem as medidas sanitárias
básicas, como o uso de máscaras, a higienização das mãos, o distanciamento social, e indisponham as pessoas contra a única medida capaz
de debelar o vírus, que é a vacina, como, aliás, vem fazendo sistematicamente o
Presidente da República, com sua política irresponsável e genocida. Que
conhecimento científico têm esses senhores para desautorizarem um conhecimento
tecnicamente comprovado? Suas opiniões transmitidas como se fossem oráculos
causam um dano incalculável em pessoas simples de nossas comunidades que os
ouvem.
O povo católico que segue estes canais não pode ser prejudicado
por quem para eles representa o próprio Jesus Cristo, que não veio para
enganar, “roubar, matar e destruir” (Jo 10,9), mas – segundo suas próprias
palavras na sinagoga de Nazaré – veio para anunciar a Boa
Notícia aos pobres,
proclamar a liberdade aos prisioneiros, dar visão aos cegos, pôr em liberdade
os oprimidos (cf. Lc 4, 18), para que “todos tenham vida e a tenham com
abundância” (Jo 10, 10).
Precisamos dar um basta nisso,
ou a Igreja Católica cairá
num descrédito imenso, numa sociedade que já a escuta muito pouco. Esses canais
provocam em muitos casos um desserviço à evangelização.
Padres da Caminhada e Padres Contra o Fascismo
21 de Janeiro de 2021.
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