Introdução
Com
o tema “Fraternidade e diálogo”, a Campanha da Fraternidade de 2021 se insere
no que, a partir dos desafios brotados da pandemia, se tem convencionado chamar
de “novo futuro”. Discernido antes dos impactos causados pelo coronavírus, o
tema “diálogo” tem mostrado importância cada vez maior, na medida em que indica
o caminho para a superação de um conjunto de crises que envolvem o Brasil e o
mundo. Trata-se de campanha planejada e realizada ecumenicamente, sob a
coordenação do Conselho Nacional de Igrejas Cristãs (Conic). Esta é a quinta
vez que a CF é assim realizada. Em direta continuidade com as campanhas mais
recentes, o tema da CFE-2021 chama a atenção para um aspecto de vital
importância para nossos dias, uma atitude que deve recuperar os primeiros
lugares nas listas de preocupações. Com o risco de ser mal compreendido, o
diálogo, ao revelar o mais profundo do ser humano, pede espaço para ser objeto
de reflexão e oração, gerando, em consequência, práticas e estruturas que se
alimentam do diálogo e o sustentam.
1. Em linha de continuidade
Com
quase seis décadas de existência, a CF é um convite à conversão por meio de uma
pedagogia que já se consolidou. Mostra uma situação específica e, a partir
dela, questionando causas e efeitos, ajuda a chegar à raiz mais profunda, que é
o pecado. É por isso que a CF tem abordado temas à primeira vista tão
diferentes, como participação paroquial (1970), temas ecológicos (1979, 2004 e
2017), família (1994), segurança pública (2009) e juventude (1992). São
abordagens escolhidas com base em situações que marcam a vida do povo
brasileiro. Algumas, é verdade, acabam adquirindo abrangência maior. Outras, embora
deem a impressão de regionalidade, visam interpelar o conjunto da sociedade
brasileira.
O
tema “diálogo” se encontra em linha direta de continuidade com a CF anterior.
Em 2020, a reflexão proposta nos convidou a encontrar caminhos para superar a
lógica da indiferença e construir relações pessoais e sociais baseadas no
cuidado, expressando o fato de que, queiramos ou não, somos estruturalmente
corresponsáveis uns pelos outros. Quando, por exemplo, em 2014, a CF nos
apresentava o tema do tráfico humano, éramos indagados a respeito de um mundo
que, de tanto desconsiderar o ser humano, acaba por transformá-lo em
mercadoria, num sistema de hedionda escravidão. Por isso, em 2015, diante do
risco de não percebermos a responsabilidade humanitária inerente à fé, refletimos
sobre o compromisso sociotransformador, o qual diz respeito às pessoas (2018)
e, numa visão integrada, ao meio ambiente (2016 e 2017). Não há, pois, como
desconsiderar a continuidade entre os temas, de modo que o tema de uma CF se
torna mais acessível quando recordamos os temas anteriores, especialmente os
mais próximos.
2. Cuidar implica dialogar
Foi,
portanto, nessa linha de continuidade que a CF-2020 apresentou o tema do
cuidado. Com inspiração em Santa Dulce dos Pobres, então recentemente canonizada,
e tendo como base a ecologia integral, apresentada pelo papa Francisco na
Laudato Si’, aquela campanha pode ter deixado a impressão de que não estava
abordando um tema específico, um desafio concreto, como, em outros temas, era
fácil de perceber. É possível entender mais facilmente a concretude, por
exemplo, do tema “juventude” (1992 e 2013) do que dos temas “cuidado” e
“diálogo”, que podem dar a impressão de serem abstratos, desconectados da vida.
Por
isso, é tão importante não esquecer a conexão entre os temas. Em cada um deles,
o cuidado se faz presente, enquanto autêntico empenho para que a vida, em todas
as suas instâncias, seja preservada. Cuidar, vimos na CF-2020, implica
reconhecer a existência do outro, da outra, de todos os outros e da casa comum.
Significa voltar-se para esse outro com reverência e acolhida, olhando-lhe as
vulnerabilidades e ajudando a emergir, do meio de situações tristes e
degradantes, a dignidade que lhe é inerente, ainda que agredida, desrespeitada.
Cuidar
não se restringe, bem sabemos, à dimensão material. Embora indispensável, essa
dimensão não é a única. Cuida-se, por exemplo, do faminto dando-lhe o alimento
para sanar de imediato sua fome, ajudando-o a conseguir, por seu próprio
esforço, sustento para si e seus familiares e não deixando morrer a indagação
pelos motivos da fome. No entanto, cuidar implica também doar o ouvido, o
coração e a mente para realizar uma das atitudes mais humanas e indispensáveis
em todos os tempos, principalmente em períodos históricos como o atual: a
escuta, o mergulho no horizonte existencial da outra pessoa, buscando
compreender o modo como ela sente a vida, avalia o mundo, percebe a realidade.
Desse encontro profundamente interpessoal, emergem perspectivas novas,
purificadas de preconceitos, de miopias socioculturais, que só permitem
enxergar o que está no restrito círculo da vida que se leva. O pecado destrói a
vida, e cuidar da vida implica voltar-se a ela, permitindo-lhe recuperar não
apenas sua dimensão material, mas também toda a abrangência do que significa
dignidade humana.
3. Diálogo é mais que conversa
Dialogar
não é apenas estabelecer conversa. Esta pode ser uma atividade desenvolvida por
duas pessoas sem que, todavia, ocorra o efetivo abrir-se à alteridade, ou seja,
ao outro e à outra como diferentes de mim. O diálogo se inicia, sem dúvida,
pelo ato de conversar, pois, se nem ao menos nos dirigimos às outras pessoas,
se não as escutamos nem compartilhamos com elas um pouco do que pensamos e
sentimos, não daremos o passo para o verdadeiro diálogo. Conversamos sobre
coisas. Dialogamos sobre nós e sobre o sentido da vida. Conversamos, por
exemplo, sobre as contas a pagar, rumos de uma série televisiva ou o sistema de
transportes que não atende às necessidades. Dialogamos, porém, sobre sonhos,
esperanças, compreensões, expectativas, frustrações, tristezas e alegrias.
Conversa pode ser o instrumento. Diálogo, porém, é a finalidade. Partimos do
mais imediato para chegar ao mais importante.
Consequentemente,
diálogo não é convencimento. Não é uma espécie de jogo de xadrez em que, a todo
instante, procuramos pôr a outra pessoa em xeque para garantir nossos pontos de
vista. Diálogo não é técnica de venda ou interrogatório. Diálogo é descoberta,
é percepção do que vai no mais profundo de cada criatura. É identificar, ainda
que aos poucos, o que torna cada pessoa tão original, tão diferenciada no
conjunto de toda a criação. É, de algum modo, estabelecer um grau de conexão
que permita sentir o que a outra pessoa sente, compreender o modo como ela
percebe a vida. Não se trata, por certo, de anulação de uma das partes do
diálogo, pois este implica sempre a existência, no mínimo, de dois diferentes,
de dois que não se anulam nem perdem suas identidades ao se colocarem
reverencialmente um diante do outro. Diálogo é compartilhamento das
identidades, das crenças, das convicções. É porque as tenho que não temo
compartilhá-las; e, quanto mais compartilho, mais me firmo, deixando-me
purificar, transformar, converter, sem me anular.
Por
isso é tão difícil conviver com pessoas ou grupos que não sabem dialogar. Na
insegurança de suas identidades, acabam se fechando em fanatismos ou
fundamentalismos, exigindo que a vida seja encapsulada, sem as diferenças
presentes em qualquer um de nós. Prevenir-se contra essa atitude certamente não
significa cair no relativismo, próprio das perdas de identidade, pois convicção
não exige fechamento em si, mas, ao contrário, implica abertura madura para o
diálogo, sem temer a exposição de pensamentos e sentimentos, sabendo que as
convicções, ao serem compartilhadas, se voltam para nós mais solidificadas, se
bem que não poucas vezes transformadas, purificadas. Assim como acontece com o
corpo humano, que, ao se exercitar, se fortalece, a postura dialogal sai
fortalecida ao apresentar ao outro e à outra, bem como ao acolher o que o outro
e a outra apresentam.
4. Jesus dialogava
Se
queremos nos compreender, devemos contemplar Jesus Cristo. Se desejamos
assimilar o que o diálogo significa, precisamos nos voltar para Jesus Cristo e,
alicerçados no pilar da Palavra de Deus (DGAE 88-92 e 144-159), perceber, se
assim podemos dizer, o diálogo feito carne. Para isso, a CFE-2021 propõe como
primeiro texto o relato dos discípulos de Emaús (Lc 21,13-35). Ali, temos um
exemplo importante do que seja a atitude de diálogo. Jesus toma a iniciativa de
ir ao encontro dos dois discípulos onde e como estão. O mergulho na conversa
(Lc 21,17) é o caminho para iniciar o que mais amplamente podemos chamar de
diálogo. O tempo gasto com os dois é condição para passar da informação para a
transformação dos discípulos. Se fosse apenas uma informação, bastaria a Jesus
dizer: “Eu ressuscitei. Estou aqui. Parem com isso”. No entanto, pacientemente
Jesus estabelece ponte com a desolação dos discípulos. Aceita o convite para
entrar na casa, conviver mais, dialogar mais, e, ao partir do pão, o diálogo se
plenifica e os dois reconhecem o Senhor. Como, porém, a dinâmica dialogal é
contínua, os discípulos saem ao encontro dos outros para com eles dialogar e
ajudá-los a confirmar a novidade da ressurreição.
Esse
relato de Emaús nos remete a muitos outros, nos quais contemplamos Jesus em
diálogo. Os mais fáceis de compreender são aqueles em que, à semelhança de
Emaús, uma conversa é estabelecida. É o caso do conhecido encontro com a mulher
da Samaria (Jo 4,1-42) ou os diversos relatos de curas. Jesus sempre dialoga,
escuta e recomenda, acolhe e transforma. É, por exemplo, o que encontramos na
cura do cego de Betsaida (Mc 8,22-26). Como manifestações do Reino de Deus, as
curas, que até poderiam ser feitas com maior rapidez e economia de tempo,
envolvem uma experiência mais ampla, a do diálogo, atitude expressa na
pergunta: “Que queres?”, mesmo que o contexto já deixe claro o que é solicitado
(Mc 10,51) e até quando são pedidos inatendíveis (Mc 10,35-45).
O
diálogo de Jesus com os discípulos e com as multidões revela algo mais profundo
ainda: o diálogo com o Pai, na força do Espírito. Conhecemos bem o que
significa a relação entre a Trindade imanente e a Trindade econômica. O que Jesus
manifesta, ainda que feitas todas as ressalvas em relação ao mistério de Deus,
é aquilo mesmo que é a Trindade em si: Deus do diálogo. Podemos, pois,
compreender analogicamente o divino e contínuo amor circulante como diálogo
entre as três divinas Pessoas. Com base nisso, é possível compreender que,
tendo sido criados à imagem e semelhança do Deus-diálogo, somos estruturalmente
abertos ao diálogo e, se assim não ocorre, o motivo é o pecado ter tomado conta
de nós e da realidade ao nosso redor.
5. Diálogo e profetismo
A
CF sempre insistiu na dimensão profética da vivência da fé. O profeta, no dizer
simples, é alguém que, tendo acolhido a Palavra de Deus, percebe o descompasso
entre ela e a realidade e passa, então, a alertar o povo, ainda que arcando com
um preço muito alto (Lc 13,34). Em suas atitudes e falas, o profeta faz a
história avançar, purifica-a dos fechamentos e das idolatrias, leva pessoas e
povos a mudar de atitude (Jn 3,1-10). Nessa relação entre Palavra de Deus e
conversão, podemos identificar a ação profética.
Na
medida em que nosso tempo se caracteriza por forte polarização – com fanatismos
e fundamentalismos que, de acordo com a imagem muito utilizada pelo papa
Francisco, são muros –, dialogar significa construir pontes, conexões entre
perspectivas diversas, algumas vezes diametrais. Vivemos um tempo de
pluralidade, com incontáveis visões e compreensões, num contínuo movimento que
compõe mosaicos culturais variados. Se, por um lado, essa realidade carrega em
si uma riqueza humana e social não experimentada antes pela humanidade, por
outro, ela é igualmente capaz de gerar atitudes de autoproteção. Nestes casos,
pessoas e grupos se agarram às suas concepções de um modo reativo, até mesmo
bélico e, consequentemente, não dialogal. O diferente, o outro e a outra, que,
na verdade, são irmãos e irmãs, passam a ser vistos como inimigos a combater,
ainda que o resultado possa ser a morte. Nesse sentido, a ausência de diálogo é
uma ameaça à vida; por conseguinte, chamar ao diálogo, possibilitar escuta
mútua, auxiliar na apresentação de compreensões, tudo isso, uma vez que
interpela a postura polarizada atual, pode ser considerado um jeito de ser
profeta.
É
possível que, durante a CFE-2021, surjam perguntas a respeito das diversas
situações de morte e sua relação com o diálogo. As vítimas de chacinas e
guerras, os refugiados, os agredidos pelo racismo, os que estão ingressando em
situação crônica de fome, esses e outros exemplos podem levar à impressão de
que o tema “diálogo” está em descompasso com a realidade, na medida em que é um
tema de natureza mais pessoal, interior, intimista. No entanto, é exatamente
para corrigir tal tipo de compreensão equivocada que a CFE-2021 nos propõe esse
tema. Não se trata de negar que o diálogo, assim como todos os demais temas,
possui uma dimensão pessoal. Esta, contudo, se encontra em direta articulação
com as demais dimensões da vida, entre as quais a socioambiental. Enquadrar a
questão das inúmeras formas de sofrimento na ótica do diálogo significa indagar
quais são os valores últimos a reger nossas opções e atitudes. Significa,
portanto, radicalizar a questão, olhar o problema em sua raiz, como aconteceu
na CF-2020 com o tema do cuidado. As incontáveis agressões à vida estão, de
algum modo, ligadas pela indiferença, lembrava-nos a CF-2020. O caminho para o
enfrentamento passa necessariamente por uma postura que podemos chamar de
diálogo. Talvez algum outro nome poderia ser usado. O importante, porém, é a
atitude de nos debruçarmos contemplativamente sobre pessoas e grupos,
especialmente sobre os que, na pluralidade do mundo atual, assumem perspectivas
distintas das nossas. Em lugar de indiferença e armas, convívio e escuta. Em
lugar de autossuficiência e polarização, diálogo.
6. Atitudes em favor do diálogo
Surge,
desse modo, a pergunta pelo agir na CFE-2021. Anualmente, a CF apresenta
inúmeras propostas, em geral sistematizadas nos níveis pessoal, comunitário e
social. Nos últimos anos, em razão da crescente consciência ambiental, também a
questão ecológica tem sido irreversivelmente considerada. Importa não separar
os três âmbitos da ação, acrescentando ainda o âmbito especificamente
religioso.
Em
nível pessoal, o primeiro passo é o testemunho. Não há como avançar diretamente
para os outros âmbitos sem que exista a conversão pessoal de perspectiva. Como
pensar em diálogo no âmbito socioambiental se a estrutura pessoal se conserva
fechada em si mesma, belicosa e reagente? Como falar em favor dos vulneráveis
se não os escutamos, se não nos debruçamos para dialogar com eles, escutar suas
dores e propostas de superação? Precisamos reconhecer que todos nós corremos o
risco do fechamento em torno de nossas perspectivas. Por isso, a CFE-2021 nos
pede, consequentemente, para sermos pessoas de diálogo, não apenas de conversa,
mas de escuta e de apresentação – na verdade e na caridade – das razões de
nossa esperança.
Em
nível comunitário, ou seja, no âmbito das instituições, também as religiosas, é
importante gerar experiências de convívio, escuta e partilha. Num contexto
sociocultural em que predominam o individualismo e a indiferença, ser escutado
e escutar possui grande força transformadora. É por isso que serviços de apoio
à solidão, à adicção e a angústias são indispensáveis no enfrentamento de
situações que podem levar, como mecanismos de defesa, ao fanatismo, à
agressividade e a atitudes de extermínio de si ou de outrem. Fica, desse modo,
fácil compreender a importância das rodas de conversa e outras formas de
partilha da vida, tanto no âmbito pessoal quanto nos demais âmbitos da
existência.
No
caso das instituições religiosas, mais especificamente das comunidades
católicas, adquire relevância a prioridade das atuais Diretrizes Gerais da Ação
Evangelizadora da Igreja no Brasil – as comunidades eclesiais missionárias.
Pequenas no número de pessoas e construídas com base nos vínculos entre os
membros, trazem em si a vocação de serem verdadeiras escolas de cuidado e
diálogo, onde os problemas pessoais e socioambientais são abordados na
confiança e à luz da Palavra de Deus. O convívio-diálogo, apesar das dificuldades
inerentes a cada grupo, é a base a partir da qual a Palavra se faz vida e a
vida se deixa iluminar pela Palavra.
Ainda
no âmbito religioso, um campo fértil e desafiador para o exercício do diálogo
encontra-se no ecumenismo e no diálogo inter-religioso. Em nossos dias, muitos
têm sido os motivos de ruptura, em virtude das polarizações. Também as
religiões estão envolvidas nesse triste processo. No caso das religiões
cristãs, isso se torna ainda mais grave, na medida em que faz parte do ser cristão
a fraterna busca da unidade. São compreensões e experiências diferentes em
torno da mesma Boa-nova. Não são, porém, opostas nem concorrentes, e – por mais
desafios que possam surgir –, sem o testemunho da unidade, todo o restante
corre o risco de não ser assimilado. Diante de conflitos de natureza religiosa,
algumas vezes dentro da própria família, o diálogo se mostra um caminho por
excelência para a superação dos conflitos.
No
âmbito social, inúmeras ações podem ser levadas a efeito. Num primeiro grupo,
encontram-se as ações que indicam o pecado e chamam à conversão (Ez 16,2). É
preciso mostrar as sequelas trazidas pela indiferença, pelo egoísmo, pelo
desprezo à vida, pela financeirização das escolhas, pela corrupção e por tudo
mais que gera morte. Não podemos delegar essa responsabilidade às pedras (Lc
19,40). Em segundo lugar, é necessário participar dos diversos grupos que
ajudam a consolidar a democracia, entre os quais os conselhos de políticas
públicas, também conhecidos como conselhos paritários ou outros nomes. É
preciso também assumir a dimensão política, para que seja sanado o estigma de
que, sendo político, é necessariamente sujo.
Em
termos especificamente ambientais, o diálogo exige que dediquemos “algum tempo
para recuperar a harmonia serena com a criação, refletir sobre nosso estilo de
vida e nossos ideais, contemplar o Criador, que vive entre nós e naquilo que
nos rodeia e cuja presença não precisa ser criada, mas descoberta, desvendada”
(LS 225).
Em
meio a todos esses âmbitos, adquire força o âmbito educacional. É preciso
educar para o diálogo. É necessário discernir os rumos da educação em nosso
país. Trata-se, por certo, de tarefa longa e detalhada, que, por isso, em muito
ultrapassa esta apresentação da CFE-2021. Seu ponto de partida, entretanto,
deve ser a opção por um processo educador que tenha no diálogo seu ponto de
partida: educar para dialogar.
7. Uma campanha que não termina
Em
sua longa trajetória, a CF sempre insiste que o tempo mais intenso de oração e
conscientização é a Quaresma. Isso, entretanto, não significa que os desafios
apresentados cheguem à Páscoa integralmente vencidos. Ao contrário, o tempo
mais intenso da CF cumpre, na maioria das vezes, a função primeira, a da
conscientização. Uma vez que tratam de situações crônicas na realidade
brasileira, os temas exigem continuidade, num processo que pode levar longo
tempo. O importante, porém, é que sejam dados os primeiros passos, sem os quais
pessoas e situações não se transformam. A pandemia trazida pelo coronavírus pôs
às claras não apenas os aspectos sanitários. Ela realçou inúmeras chagas da
realidade brasileira, fazendo nascer o desejo pelo que se tem convencionado
chamar de novo futuro.
Olhando,
porém, a gravidade do que se vivenciou ao longo de 2020, com a multipandemia, é
indispensável dizer que essa não é apenas uma questão de futuro, mas do tempo
presente, a partir do qual se constrói o futuro. Não se trata de um futuro a
esperar, mas de um futuro a construir. Indesejável e injustificável em todos os
sentidos, a pandemia acabou possibilitando experiências de convívio que já não
podem ser desconsideradas. Relativizou o consumismo, mostrando que os bens não
substituem as pessoas, num mundo criado pelo e para o amor, o cuidado, o
diálogo. Por isso, a última – porém não menos importante – atitude a ser
mencionada para o agir da CFE-2021 há de ser a valorização do que temos
conseguido em meio a tantas tristezas oriundas da multipandemia que veio a nos
assolar.
Joel Portella Amado
D.
Joel Portella Amado, doutor em teologia pela PUC-Rio, é bispo auxiliar do Rio
de Janeiro e secretário geral da CNBB. E-mail: joel@arquidiocese.org.br
Fonte:vidapastoral.org.br
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