Somos
felizes quando nos sentimos no caminho do amor e por ele nos deixamos conduzir
(Unsplash/Scott Broome)
Lenda antiga fala de um cristão
chamado Valentim que se entregou para ser preso e morto no lugar de um amigo
Marcelo Barros
Apesar das vacinas que
chegam mais lentamente do que seria necessário, este momento do mundo ainda não
permite que o povo se reúna para o Carnaval, como a maioria desejaria. No
entanto, em muitos países do mundo, este próximo domingo, 14 de fevereiro, é um
dia importante para as pessoas apaixonadas e para os amigos. O motivo é que,
além de ser, neste ano, o domingo do Carnaval, é bom sabermos que, no antigo
calendário católico, nesta data, se fazia memória de São Valentim.
Trata-se de uma figura
do Cristianismo primitivo. Conforme a lenda, no século 3º, para que os jovens
pudessem permanecer disponíveis para ir à guerra, o imperador proibiu que, por
um tempo, a Igreja abençoasse casamentos. No entanto, o bispo Valentim os
celebrava escondidos. Um dia, isso foi descoberto. O bispo foi preso e
condenado à morte. Mesmo na prisão, continuou a abençoar o amor dos jovens. Por
isso, em muitos países, até hoje, o "Valentine days" é o dia dos
namorados.
Outra lenda antiga fala
de um cristão chamado Valentim que se entregou aos guardas do imperador para
ser preso e morto no lugar de um amigo, denunciado como cristão. Baseado nisso,
a ONU considera o 14 de fevereiro como "o dia da amizade".
Hoje, vivemos
mergulhados em um mundo virtual, no qual as redes sociais nos classificam em
grupos. Com apenas um clique fazemos um amigo virtual. No entanto, no mundo
real, não pode ser assim.
Há alguns anos, um
militante de direitos humanos visitava uma aldeia dos índios Bororo, no Mato
Grosso. Interessado em ouvir as histórias dos antigos daquele povo, conversava
com um dos mais velhos da aldeia. O velho índio se mostrou muito aberto. Mas,
quando o outro perguntou se poderia ir à sua casa, o índio respondeu:
— Quando formos amigos,
convido você à minha casa.
Isso pode parecer rude,
mas é importante para nos darmos conta de como é verdade o que Saint Exupery
escreveu: "Amigos não se encontram como produtos em lojas. Não existem
lojas de amigos. Para que as pessoas se tornem amigas, precisam de tempo e de
gratuidade".
Atualmente, a maioria da
juventude continua repetindo a palavra de ordem dos anos 70: "Faça o amor,
não faça a guerra". E, para muitas pessoas, as questões afetivas ainda
parecem ser o único eixo de vida que interessa. Até hoje, em forma de novelas,
a televisão oferece o amor romântico como pão e circo para as carências da
massa.
A partir da 4ª feira de
cinzas, 17 de fevereiro, oito Igrejas e grupos ligados ao Conselho Nacional de
Igrejas Cristãs (Conic) iniciam a Campanha da Fraternidade 2021 com o tema
“Fraternidade e Diálogo, a serviço da paz e da justiça”.
De fato, um grande
desafio para os nossos tempos é valorizar as relações pessoais e aprofundá-las,
ao mesmo tempo que construir o que o papa Francisco em sua recente encíclica
Fratelli Tutti chama de “amizade social”. Alguns grupos de juventude falam em
“socializar o amor”.
Na América Latina, temos
aprendido que as lutas políticas se tornam superficiais e até inúteis se não
procedem do amor e não são permanentemente embebidas de amorosidade. Nesses
dias difíceis que atravessamos, em um Brasil incendiado por ondas de violência
e de ódio, qualquer brisa de amor refrigera.
Embora tome formas e
expressões diferentes, qualquer forma de amor tem o mesmo DNA. Seja amor de
mãe, seja de irmãos, de namorados ou de amigos, todo amor vem da mesma fonte.
Trata-se da inteligência amorosa, presente no universo e atuante nas pessoas e
em todo ser vivo. As religiões e tradições espirituais a chamam de Deus. A
tradição judaica ensina que ao criar o mundo, a luz divina se espalhou como
chamas de amor por todo o universo. Ao receberem essas faíscas do Amor maior,
fonte de todo amor, todos os seres vivos foram divinizados. Entre eles, cada
ser humano é chamado a cultivar e desenvolver essa chama para que ela não se
apague. As relações familiares, a participação comunitária e os relacionamentos
de amizade e de amor conjugal são instrumentos para a realização plena dessa
vocação para o amor.
O amor conjugal tem uma
dimensão mais exclusiva. O amor de amizade é mais aberto, gratuito e
incondicional. Por isso, místicos de diferentes religiões consideram a amizade
como o sinal por excelência do amor divino no mundo. Amar é nossa vocação.
Todos os seres humanos são chamados a viver esse caminho. Somos felizes quando
nos sentimos nele e por ele nos deixamos conduzir.
Todas as formas de amor
são assumidas pelo Espírito Divino que se manifesta em todo e qualquer amor
humano. No entanto, o Espírito de Amor nos chama a sermos cada vez capazes de
um amor gratuito e mais generoso. Trata-se de amar até quem não ama. ,É levar
amor onde não há amor, de modo incondicional e sem limites. Como afirma a carta
apostólica: "Deus é amor. Quem vive o amor permanece em Deus e Deus está
nessa pessoa" (1Jo 4, 16).
Nenhum comentário:
Postar um comentário