No
entanto, na maioria das tradições indígenas e afrodescendentes, o culto se faz
em roda de dança, com som de tambores, atabaques ou maracás (Tomaz
Silva/Arquivo ABr)
O importante é que, seja como for, todos(as) podem ter a alegria
como opção de fé. Este tipo de alegria não pode ser confundida com prazer ou
otimismo fácil. É simplesmente opção de vida, motivada pela confiança de que,
mesmo no meio da dor e da luta, se temos amor, temos alegria
Marcelo Barros
Até hoje, em alguns
lugares, um dos jogos mais comuns entre grupos de amigos que se encontram é uma
espécie de campeonato de mímica. O grupo se divide em duas equipes. Os(as)
companheiros de uma equipe combinam entre si algum tema ou assunto e chamam alguém
da equipe adversária e lhe encarrega de transmitir uma palavra ou assunto
através de gestos e mímicas para os seus/suas companheiros(as) de equipe para
que tentem decifrar o que a mímica quer dizer.
Há grupos que jogam
horas e horas interpretando com mímicas canções da MPB. Outras vezes, são
títulos de filmes ou novelas. Outras vezes podem ser atitudes de vida.
Em um desses jogos,
alguém começou a dançar e a se mover com muita expressão de alegria. O pessoal
da equipe tentou adivinhar. Um companheiro gritou:
- Festa.
A moça que fazia a
mímica fez sinal de que não era isso. O jogo continuou. Outra pessoa
interpretou:
- Quadrilha de São João
Não era. Um menino se
aventurou:
- Eu sei:
Carnaval!
Não era também e a
equipe perdeu. O certo teria sido: "culto afro" ou
"Candomblé". Alguém protestou:
- Assim não vale. Como a
gente poderia imaginar que dança e alegria tivesse a ver com religião e com
culto a Deus?
Para aquele grupo e para
muita gente no mundo, se alguém quiser interpretar em gestos de mímica um culto
ou oração teria de tomar atitudes de recolhimento, olhos fechados, cabeça
baixa, mãos unidas em atitude de súplica.
No entanto, na maioria
das tradições indígenas e afrodescendentes, o culto se faz em roda de dança,
com som de tambores, atabaques ou maracás. E as pessoas acreditam que o
Espírito vem brincar de roda e dançar com seus filhos e filhas na alegria do
amor.
A tradição cristã não
nos ajudou a ligar Deus com alegria. Na música que se chama Partido
Alto, Chico Buarque canta:
Deus é um cara
gozador, adora brincadeira
Pois pra me jogar no mundo, tinha o mundo inteiro
Mas achou muito engraçado me botar cabreiro
Na barriga da miséria, eu nasci brasileiro
Hoje em dia, no meio de
todos os sofrimentos e problemas pelos quais passamos, um dos mais importantes
sinais de que assumimos a espiritualidade libertadora é cultivar em nós a opção
da alegria, mesmo em meio aos conflitos e às dores de cada dia.
As pessoas podem ser de
temperamento naturalmente mais alegre ou podem já ter mais dificuldade em achar
graça das coisas simples da vida. O importante é que, seja como for, todos(as)
podem ter a alegria como opção de fé. Este tipo de alegria não pode ser
confundida com prazer ou otimismo fácil. É simplesmente opção de vida, motivada
pela confiança de que, mesmo no meio da dor e da luta, se temos amor, temos
alegria.
A alegria não é só para
quando se está bem. Quem já foi a algum país dos mais pobres da África sabe que
até quando as pessoas vão à rua protestar, fazem isso dançando e brincando.
Para as culturas originárias, a alegria é dom divino como força de
resistência.
No Brasil, quem convive
ou encontra irmãos e irmãs que moram na rua, sabe que, mesmo em meio a muitas
dificuldades, encontram força para sorrir e manter o humor. Intuem que a
alegria é força que cura e nos dá energia para nos fortalecer interiormente e
nos reanimar uns aos outros.
Conforme a Bíblia, no
século 6 antes de Cristo, quando os judeus cativos voltaram da Babilônia,
começaram a reconstruir Jerusalém e o templo. Os sacerdotes juntaram a multidão
e leram para todos o livro da aliança de Deus. O povo começou a chorar e bater
no peito. O governador Neemias, que coordenava aquele encontro, disse às
pessoas: "Não chorem. Voltem para casa. Façam uma boa comida e festejem,
porque a alegria de Deus é nossa força" (Ne 8, 10).
Mais tarde, conforme o
quarto evangelho, durante a última ceia, Jesus disse aos discípulos e
discípulas: "Eu vos disse essas coisas para que vocês tenham a minha
alegria e esta alegria seja perfeita" (João 15, 11).
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