'Não esperem que a Igreja os reconheça, sejam felizes primeiro' (Progetto Gionata)
Em entrevista, padre Alberto Maggi
aponta que Jesus não disse nenhuma palavra contra a homossexualidade
Paolo Rodari
"E esta seria a
Igreja em saída? Esta Igreja me assusta. Deveria estar sempre com as mãos
estendidas, ir ao encontro dos outros e lembrar que para Jesus a verdade não é
uma doutrina a ser ensinada, mas o bem a ser feito. E em vez disso sai com
essas tomadas de posição", diz Alberto Maggi, 75, em entrevista publicada
pelo jornal La Repubblica, em 16 de março. Maggi é padre e um dos biblicistas
italianos mais respeitados. Em seu Centro Giovanni Vannucci de Estudos Bíblicos
em Montefano, centenas de pessoas se reúnem há anos para encontrar respostas
que a Igreja não é capaz de oferecer.
Padre Maggi, por
que a Igreja deveria abençoar os casais homossexuais?
Por que não deveria?
Se duas pessoas vivem juntas, fazem o bem, vivem com generosidade e se amam,
por que não deveriam encontrar alguém que as abençoe? Casas, animais, objetos
são abençoados, mas duas pessoas que se amam não. Mas felizmente onde há amor
está Deus, por isso duas pessoas homossexuais que se amam não têm nada a temer.
O Vaticano diz
que essas uniões não são para a procriação.
Também a minha vida de
sacerdote não está aberta à procriação. Assim como a de Jesus que não repetiu o
adágio bíblico 'crescei e multiplicai-vos'. Ele nos incentivou a estar abertos
aos outros e para fazer isso você não precisa procriar. Aqui se jogam fardos
nos ombros das pessoas, fardos que nem se consegue carregar. É muito triste.
Ao longo dos
séculos, a Igreja mudou de ideia em muitas questões. Por que não sobre os
homossexuais?
Eu espero que chegue
logo a isso. Demorou dois mil anos para dizer que não só a procriação é
importante no casamento, mas também a sexualidade.
Demorou décadas para se certificar, só para dar outro exemplo, que os suicidas
pudessem ser enterrados em terra consagrada... Eu digo aos homossexuais, não
esperem que a Igreja os reconheça, sejam felizes primeiro.
O mesmo também
vale para os divorciados que voltam a casar?
Para a Igreja é mais
grave se divorciar do que matar. Aqueles que matam são perdoados, aqueles que
se divorciam não são porque não podem mais voltar a se casar. Absurdo.
Entre outras
coisas, Jesus nunca se expressou sobre a homossexualidade.
Nunca. No entanto, a
Igreja o faz. Anteontem se lia o Evangelho com as palavras de Jesus a
Nicodemos. Jesus disse que quem faz o mal odeia a luz. Mas depois,
clamorosamente, ele não fala de quem faz o bem, mas diz que a verdade é fazer o
bem. A verdade não é uma doutrina, mas fazer o bem. Com o documento de ontem,
ao contrário, joga-se contra as pessoas a doutrina com o efeito de afastar
ainda mais as pessoas de Jesus.
Muitas vezes a
Igreja parece dar respostas a perguntas que já foram superadas.
Isso mesmo. A Igreja
responde aos problemas que a sociedade já superou. E as respostas que dá, na
prática, não valem mais.
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homoafetivos
Traduzido por Luisa
Rabolini para o IHU
La Reppublica
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