segunda-feira, 1 de março de 2021

MIANMAR: DE JOELHOS, IRMÃ IMPLORA À POLÍCIA PARA POUPAR MANIFESTANTES

Religiosas em protesto em Yangon contra o golpe militar

“A ação da freira e a resposta da polícia que, ao ver o apelo da religiosa parou, surpreendeu a muitos de nós. Irmã Ann hoje é um modelo para os líderes da Igreja: bispos e sacerdotes são chamados a sair de sua zona de conforto e tomar como exemplo a sua coragem", disse o diretor de um jornal católico local.

Vatican News

São ao menos 18 os mortos, dezenas de feridos e centenas de prisões nos protestos em Mianmar contra o golpe militar em 1° de fevereiro, pondo fim à frágil democracia no país. A polícia recrudesceu a repressão nos últimos dias, com o uso de fatos d’água, gás lacrimogênio, balas de borracha e munição letal.

Em meio aos protestos e à violência, chamou a atenção o gesto de uma freira católica nas ruas da cidade de Myitkyina, capital do Estado de Kachin, norte de Minamar, que implorou de joelhos às forças de segurança para que não atirassem nos jovens manifestantes que protestavam pacificamente. Irmã Ann Nu Thawng, da Congregação de São Francisco Xavier, Instituto de direito diocesano em Myitkyina, acabou se tornando o símbolo de um domingo sangrento.

“Na área de Myitkyina, até agora as manifestações sempre foram pacíficas e sem incidentes. Mas ontem alguns episódios de violência ameaçaram precipitar a situação”, contou à Agência Fides Joseph Kung Za Hmung, editor do “Gloria News Journal”, o primeiro jornal católico on-line em Mianmar.

“A ação da freira e a resposta da polícia que, ao ver o apelo da religiosa parou, surpreendeu a muitos de nós. Irmã Ann hoje é um modelo para os líderes da Igreja: bispos e sacerdotes são chamados a sair de sua zona de conforto e tomar como exemplo a sua coragem", diz ele, observando que muitos não-católicos também elogiaram a irmã Thawng, cujo gesto logo se tornou viral nas redes sociais. “Mais de 100 manifestantes conseguiram encontrar abrigo em seu convento. Foram salvos dos brutais espancamentos e da prisão policial”, relata o diretor.

O arcebispo de Yangon, cardeal Charles Maung Bo, postou em sua conta no Twitter quatro fotos com a religiosa diante de uma barreira policial. Já em sua homilia na Missa no II Domingo da Quaresma, ele comentou a crise social e política no país, afirmando que “o Evangelho da Transfiguração é tão atual, reverbera os acontecimentos desses dias: que transfiguração buscamos hoje em Mianmar? Se a buscarmos, toda a confusão, toda a escuridão, todo o ódio, irão embora de nosso país, a famosa Terra de Ouro, será transfigurado em uma terra de paz e prosperidade."

“No mês passado - continuou o cardeal - todos nós imploramos: a paz é o único caminho; a paz é possível. O Papa Francisco pediu a resolução de todos os conflitos por meio do diálogo. Os que querem o conflito não desejam o bem a esta nação. Tornemo-nos todos Elias que proclama a paz, acendendo uma lâmpada de esperança no meio das trevas”.

O cardeal Bo rezou pela nação que "viu tanto sofrimento, tanta guerra, tantas mortes" e disse: "Como Abraão, busquemos uma terra prometida. A terra prometida chega quando estamos prontos a sacrificar o que consideramos muito caro".

“A conversão – disse ao concluir - é a mensagem central da Quaresma. Desafiemos a nós mesmos. Vamos nos ver sob uma luz melhor. Há um novo mundo possível, um novo Mianmar possível, uma nação sem conflito é possível se esta nação se transfigurar na glória que merece. Que a paz seja o nosso destino, não o conflito. As armas são inúteis. É preciso que nos rearmemos com a reconciliação e o diálogo. O Monte Tabor de Mianmar deve ser escalado com paciência e tolerância, se quisermos testemunhar a transfiguração. O mal deve desaparecer, mas não pode ser destruído por outro mal".

O exército birmanês tomou o poder declarando "estado de emergência" de um ano, depois de ter acusado de fraude em novembro de 2020 a Liga Nacional para a Democracia, partido do líder civil Aung San Suu Kyi, que está sob prisão.

Agência Fides 



 

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