O
cristianismo se vive no exercício do amor ao próximo, que consiste mais em
ações do que em palavras (Unsplash/Harli Marten)
Amar é sempre uma decisão de fazer o
bem ao meu próximo
Fabrício Veliq*
A mensagem de Jesus é
bem conhecida por todos que se dizem cristãos e que, em algum momento, leram os
evangelhos. Ainda que muitas vezes não praticada, dificilmente alguém diria
desconhecê-la. Ou seja, qualquer um que se professa cristão, ao ser perguntado
sobre a mensagem de Jesus, tende a falar que esta trata do amor – ao próximo e
a Deus. Desse modo, o seguimento à vontade divina envolve, necessariamente, uma
atitude de amor frente ao mundo.
Contudo, mesmo sabendo
e recitando isso, percebe-se que não são tantos assim os que estão dispostos a
esse seguimento, o que se verifica tomando como prova nossa própria nação.
Segundo o último censo, cerca de 80% dos brasileiros se nomeiam cristãos.
Entretanto, somos um dos países de maior desigualdade social no mundo. Ora,
tendo uma maioria declaradamente cristã, o Brasil não deveria ser um lugar onde
os princípios do Reino seriam marca distintiva do viver de sua população? Sendo
composto majoritariamente por seguidores e seguidoras de Jesus, não deveria ser
um exemplo para o mundo de como é viver os princípios ensinados pelo Mestre?
Em outras palavras,
ter uma população que se denomina majoritariamente cristã e, ao mesmo tempo,
ser um país exemplo daquilo que Jesus não pregou – e, muito menos, viveria – é
forte indício da distinção e separação abissal entre essa suposta profissão de
fé e o seguimento real do Cristo.
Com isso em mente,
pergunta-se: por que, afinal de contas o conhecimento da mensagem evangélica
não se converte em prática? A meu ver, uma possível resposta está no fato de
que amor não se dá pelo conhecimento dogmático ou, muito menos, doutrinal de
determinada religião. Por mais que possamos, através de uma pedagogia do amor,
mostrar como deve ser a sociedade desejada pela mensagem de Jesus, amar é sempre
decisão que parte do indivíduo na direção do outro.
Essa decisão, por sua
vez, não tem como ser forçada. Não há como obrigar alguém a amar o outro, assim
como não há como amar por ele. Nesse sentido, a exigência de seguimento de
Jesus demanda uma escolha que deve ser tomada por cada pessoa, individualmente.
Quando lemos nos
Evangelhos o chamado de Jesus aos seus discípulos, o máximo que ele fez foi
convidar: "Segue-me". A decisão de abandonar tudo e seguir partiu de
cada um dos que o ouviram. Em nenhum momento houve chantagem, coerção,
proselitismo, vingança pelo não seguimento. Ainda que os discípulos, em certa
ocasião, tenham quisto atear fogo celeste, consumindo todos aqueles que não
quiseram seguir a mensagem evangélica, Jesus os repreendeu afirmando que não
sabiam sobre o espírito que os animava.
Assim, o seguimento de
Jesus, que é o seguimento do amor – o que implica em buscar, na medida do
possível, fazer sempre o bem ao próximo –, rompe com toda lógica meramente
discursiva e condena todo discurso amoroso que não se mostra em atos.
Entre dizer que
devemos amar uns aos outros e, efetivamente, amarmos uns aos outros é que se
encontra o desafio do seguimento de Jesus. Só se aprende a amar amando e tal
decisão é sempre individual, que ninguém pode tomar por mim. Ficar no campo do
discurso, obviamente, é bem mais fácil. Porém, o que Jesus ordena a seus
discípulos e discípulas é amar por meio de ações concretas que visam o bem da
humanidade. E isso, necessariamente, demanda uma decisão da nossa parte.
Será que estamos
dispostos a ouvir esse chamado ao seguimento do Senhor hoje?
O texto reflete a
opinião pessoal do autor, não necessariamente do Dom Total. O autor assume
integral e exclusivamente responsabilidade pela sua opinião.
*Fabrício Veliq é protestante e teólogo.
Doutor em Teologia pela Faculdade Jesuíta de Belo Horizonte (FAJE), Doctor of
Theology pela Katholieke Universiteit Leuven (KU Leuven), Bacharel em Filosofia
e Licenciado em Matemática (UFMG). Autor do livro: Teologia no século 21: novos
contextos e fronteiras. Editora Saber Criativo. E-mail: fveliq@gmail.com. Site:
www.fabricioveliq.com.br.
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