domingo, 4 de abril de 2021

ORAÇÃO EM TEMPO DE PANDEMIA EXIGE PROFUNDA COMPAIXÃO

Nossa oração simplesmente reflete os desassossegos existenciais que emergiram no contexto da pandemia (Unsplash/Gabriella Clare Marino)
Aquele que ora assume compromisso com o projeto de vida indicado na práxis de Jesus Cristo
Diante da dor e do luto apresentadas por tantos meios de comunicação e pelas redes sociais, nossa oração acaba perdendo o seu sentido. Parece que em meio a essa "contaminação" de informações pessimistas, nossa fé perde a esperança. Então de qual forma podemos cultivar neste tempo o contato com Deus através da oração? Como conversar com Deus quando o nosso coração está como o do salmista a se interrogar: "de onde virá meu socorro" (Sl 121,1)?
Uma belíssima imagem que surge no meio deste tempo nebuloso e de falta de respostas, é a do papa Francisco que mostra-se uma liderança coerente e um exemplo de pessoa de fé. No final do mês de março do ano passado, fomos surpreendidos com seu gesto simples, mas tão significativo. Diante de um dia chuvoso e uma praça profundamente vazia e invadida por um silêncio que refletia a dor de toda humanidade, ele se coloca em oração por todas as vítimas da pandemia.
Ali Francisco é o símbolo de todos homens e mulheres que se sentem só, perante a calamidade desta doença tão aterrorizante, mas que deixam seu coração pulsar pelas dores e esperanças da humanidade. Sua oração é um convite a corresponsabilidade com a vida, através de gestos humanitários concretos. Como ele mesmo disse, estamos "frágeis e desorientados", mas "todos chamados a remar juntos."
Ao assumirmos os remos da vida, como somos convidados por Francisco, em meio as ondas agitadas de nosso tempo, não podemos cair no imediatismo que muitas vezes apresenta em nossas orações. Parece que nos habituamos a "uma oração delivery", baseada em um monólogo pessoal com uma lista de tarefas apresentada a Deus para que ele resolva prontamente.
Nossa oração simplesmente reflete os desassossegos existenciais que emergiram no contexto da pandemia, pelas ondas caudalosas das ilusões sobre Deus e sobre nós mesmos. Ao desmascararmos estas falsas imagens, deixamos desvelar no horizonte da fé o mistério da presença de Deus, que nos envolve e se revela pouco a pouco diante dos olhos. Esta é uma relação, como toda relação humana, que se cultiva e cresce aos poucos.
Como dizia um padre que admiro muito, "só podemos dizer que construímos uma amizade verdadeira quando conseguimos nos colocar em silêncio diante do nosso amigo, e não nos sentirmos incomodados, mas habitado pela presença dele". A oração que brota do nosso interior é sempre verdadeira, é um encontro com um amigo que partilha da vida conosco, mas um outro com sua alteridade. Mesmo que nesta hospedagem mutua não conseguimos entender o que Ele nos fala.
Não podemos esquecer que a oração também é uma entrega esperançosa, mais ativa nas mãos de Deus. É assumir e comprometer-se com o projeto de vida indicado na práxis de Jesus. Projeto este de inclusão e amor por todas e todos. Nossa fé nos lança, mesmo em meio as tempestades desumanas que a nossa humanidade está passando, a ter esperança e encontrar forças de escutar a voz de Deus e a nos encorajarmos fraternamente a dar respostas concreta.
A redescoberta da oração neste tempo, deve ser feito com coisas simples:
Diante dos inúmeras notícias que recebemos que tal usá-las em nossa oração, confrontando-a com os textos bíblicos? Um bom orante tem em suas mãos a vida e a bíblia.
Os salmos também podem nos ajudar nessa jornada. Como tradição de oração do povo judeu, trazem muitíssimos textos que falam do nosso estado interior e nos ajuda a expressar o que estamos sentindo.
Nos evangelhos nos deparamos com vários textos que apresentam a indignação de Jesus diante da dor humana. Eles podem nos ajudar a não nos paralisarmos diante da pandemia, mas a agir esperançosamente. O ato de indignar faz parte da nossa vida, nos ajuda a saímos do nosso comodismos e buscar soluções perante a frieza humana.
Criar comunidades ou grupo de reflexão por meio das redes sociais para nós aproximarmos um dos outros e podermos nos fortalecer.
Por fim, a caridade, como diziam os primeiros cristãos, é uma forma de oração. Nela concretizamos os apelos que surgem em nossa oração e somos capazes de sair de nós mesmos.
 A oração neste tempo exige uma abertura a sentir com o outro, contemplar esta ação silenciosa de Deus no cotidiano da vida que passa por nossas mãos. Não nos deixemos abalar pelas tempestades, elas são sempre passageiras.
*Luan de Amorim Moreira é jesuíta em formação, teólogo e graduando em filosofia

 Fonte:domtotal.com


 

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