Entre os séculos XIX e XX, a santa
dedicou-se a proclamar o Evangelho entre os emigrantes nas Américas, com
determinação e disponibilidade. Há setenta e cinco anos, em 7 de julho de 1946,
foi canonizada por Pio XII. Entrevista com Irmã Statley, Superiora das
Missionárias do Sagrado Coração de Jesus: "Hoje continuamos sua missão na
esfera multicultural e intercultural"
Laura De Luca – Vatican News
"É a imagem da mulher forte,
conquistadora, com passos ousados e heróicos ao longo de sua vida mortal, e
agora exaltada à pompa da glória dos Santos aqui na terra...". Assim falou
o Papa Pio XII alguns dias após a canonização de Santa Francisca Xavier
Cabrini, quando o mundo ainda estava vivendo com alívio o final da Segunda
Guerra Mundial. Foi uma religiosa com um olhar profético, de profunda caridade
e uma visão autônoma e muito moderna, quase empreendedora, que ela colocou a
serviço dos últimos.
“Nós vemos esta heroína dos tempos
modernos, surgir no meio de nós como uma estrela vinda de uma humilde
cidadezinha do interior, elevar-se em sua luz e atravessar os oceanos,
espalhando o calor de seus raios por toda parte, e despertando ao seu redor a
maravilha dos povos”
A humilde cidadezinha era Codogno, no
interior da Itália, de onde, quando era uma professora muito jovem, sonhava em
partir como missionária para a China. Mas, ao invés disso, o Papa Leão XIII a
convidou a partir para o Ocidente. E assim foi, como lembra Pio XII,
"diante das colônias de emigrantes italianos, nos quais parecia ver muitas
'pequenas Itálias', onde o trabalho de educação não era mais suficiente para
satisfazer suas necessidades e dificuldades. Todos se dirigiam a ela, e
admiraram o gênio cristão de bondade e de caridade: todas as chamadas eram
atendidas com todo tipo de obras. Foi assim nas escolas pobres, nas faculdades
de ensino superior, oratórios festivos, orfanatos, depois hospitais e clínicas,
no apostolado nas prisões, no Alasca, e, durante a guerra local, o cuidado dos
soldados e dos feridos, cujos filhos ela acolheu".
Seu entusiasmo solidário faz dela um
modelo muito atual ainda hoje, na delicada fase do retorno à normalidade após a
pandemia. Irmã Barbara Statley, atual superiora dos Missionárias do Sagrado
Coração de Jesus, fala sobre a santa.
Madre Bárbara, que tipo de mulher era
Madre Cabrini?
Antes de tudo, Madre Cabrini era uma
santa, uma mulher dedicada ao coração de Cristo. Ela queria servir a Deus com
todo o seu coração e levar seu amor a todos no mundo. Tinha um grande desejo de
alcançar todas as diferentes situações do mundo e de espalhar o amor. Isto a
levou a usar seus dons e talentos naturais. Era uma mulher à frente de
seu tempo. Entendia o que significava desenvolver esses dons e talentos...
Tinha uma profunda consciência de sua própria autonomia. Amava a liberdade, e
tinha curiosidade por tudo, atenta a toda criatura de Deus. Lia sempre os
jornais, para saber o que estava acontecendo no mundo, porque não se pode
responder aos problemas do mundo, não se pode trazer o amor de Cristo ao mundo
se não se sabe o que está acontecendo. Portanto, ela era uma mulher cheia de
paixão, cheia de zelo. Muito ativa, mas também gentil, tímida, era capaz de se
elevar a essa paz natural em nome do serviço a Deus.
Se a santa vivesse hoje, que
categorias de pessoas desprivilegiadas teria se dedicado?
Hoje, ela ainda está trabalhando.
Teria feito o que nós estamos fazendo. Assumimos sua profunda predileção pelos
mais necessitados do mundo e esta é nossa missão. Como se sabe, Madre Cabrini é
a padroeira universal dos emigrantes e refugiados. Portanto, ela teria estado
muito próxima dessas pessoas. Amava profundamente a educação, era educadora por
profissão, mas acima de tudo amava a educação do coração. Hoje nós trabalhamos
no campo acadêmico, mas tudo o que fazemos tem como objetivo ajudar as pessoas
a transformar seus corações. Madre Cabrini amava diferentes culturas, e o que
ela faria hoje é o que nós fazemos, então trabalhamos na esfera multicultural e
intercultural, testemunhando ao mundo o que significa viver e trabalhar juntos
para pessoas com diferentes histórias e diferentes etnias. Ela tinha uma grande
capacidade de atrair as pessoas, por isso digo que ela era uma mulher à frente
de seu tempo. Como se sabe, veio do norte da Itália, de um ambiente
inteiramente católico e quando chegou aos Estados Unidos, se viu diante do
mundo protestante e teve que se adaptar. Hoje continuamos trabalhar com muitas
parcerias em nossa missão, não apenas nossos missionários: senhoras
protestantes, católicas, judias... que compartilham a necessidade de espalhar o
amor de Deus no mundo.
Qual é o maior ensinamento que a
senhora recebeu da Madre Cabrini?
É difícil de explicar. A Madre
Cabrini está muito presente... Muitas pessoas e muitos de nossos missionários
sentem que a Madre Cabrini está presente. Creio que o que aprendi com ela é que
a dedicação e o mandato de servir a Deus não se reduz apenas a uma questão
espiritual, mas encarnada. Nós devemos ser as mãos, o coração, os olhos, os
ouvidos de Jesus no mundo. Devemos trabalhar diariamente e oferecer nossos sofrimentos
diários a Deus em unidade com seus sofrimentos. Certamente não devemos criar
sofrimento artificial para nós mesmos, porque nossa jornada de vida, nossas
atividades diárias já têm seus próprios desafios. Portanto, tudo o que fazemos
é significativo desde que o façamos com o desejo de amar a Deus, de sermos
amados por Deus e de transmitir seu amor a outras pessoas.
Fonte: Vatican News
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