O dia 9 de julho de 2011 é uma data
histórica para a África: naquele dia, de facto, marcou o nascimento de um novo
Estado, o Sudão do Sul, que se tornou independente do Norte por meio de um
referendo, votado por mais de 98% da população. Mas dez anos depois dessa data,
as perspectivas para o País não são nada animadoras: destaca o Conselho das
Igrejas do Sudão do Sul (SSCC) que, numa mensagem, afirma que é uma década
perdida, sem paz, nem justiça e nem liberdade.
Cidade do Vaticano
Tendo em vista o 10° aniversário da
independência do Sudão do Sul, o Conselho das Igrejas do Sudão do Sul, numa
mensagem, escreve: “Temos muito pouco para festejar, o povo está passando por
um momento difícil por causa da violência contínua, do desespero e da
miséria" que prevalecem.
O Sudão do Sul, de facto, é
subjugado por perenes tensões que se agravaram em 2013, quando os partidários
do presidente Salva Kiir, da etnia Dinka e os do ex-Chefe de Estado Riek
Machar, da etnia Nuer, começaram a confrontar-se. O grave conflito deixou um
rastro de morte e destruição no terreno, com 400 mil vítimas e 4 milhões entre
refugiados e deslocados internos.
Cinco anos depois, em 2018, foi
alcançado um acordo para o fim da guerra, o “Acordo Revitalizado para a
Resolução do Conflito no Sudão do Sul” (R-ARCSS), enquanto que em fevereiro de
2020 as facções políticas chegaram a um acordo para a formação de um novo
Governo de transição de unidade nacional, chefiado por Salva Kiir e Riek Machar
na oposião. Mas os resultados concretos demoram a chegar e a violência
continua, afectando também líderes religiosos. De facto, no passado mês de
abril, o Bispo de Rumbek, o Comboniano Padre Christian Carlassare, foi baleado
por desconhecidos.
É este, portanto, o contexto em que
se insere a mensagem do SSCC, que deplora “a crescente violência
intercomunitária, bem como os crescentes casos de violência sexual,
assassinatos por vingança, açambarcamento de terras e sequestro de crianças”.
Todos eles factores que “não apenas desestabilizaram a paz, mas também atrasaram
o desenvolvimento socioeconómico do País”.
E em particular, afirma o SSCC:
“estes conflitos fizeram dos nossos primeiros dez anos de independência uma
década perdida. Estamos praticamente num ponto morto”. Há dez anos atrás, de
facto, “havia a euforia e o entusiasmo de marcar o nascimento da nação mais
jovem do mundo”, porque “se esperava, depois de anos de lutas e sacrifícios, de
se ter chegado finalmente à 'Terra Prometida' e de poder construir um mundo
melhor ”, graças também aos “sacrifícios abnegados de tantos mártires e heróis
dos nossos dias que trabalharam em nome da justiça, da liberdade e da
prosperidade do nosso povo”.
No dia 9 de julho de 2011,
“esperávamos um novo raio de esperança e de paz sustentável - escreve o
Conselho das Igrejas do Sudão do Sul - mas aquela exultação durou pouco porque,
apenas dois anos mais tarde, a nação precipitava em violentos conflitos que a
devastaram”, empobrecendo a população, que ficou “sem esperança e reduzida a
uma extrema dependência da ajuda humanitária”. Daí a exortação do SSCC para que
as forças políticas implementem o acordo de paz, manifestando “a vontade
política para o fazer” e “restaurando a estabilidade no país”. Por seu lado, as
Igrejas nacionais asseguram o seu compromisso em "apoiar a paz, a justiça,
o perdão e a reconciliação no País".
A esperança do SSCC é que a segunda
década da independência do País represente "um novo começo de liberdade e
prosperidade para todo o povo". Não deve, portanto, ser "uma outra
década perdida", mas "uma oportunidade para salvar a população da
indigência" e "parar a auto-sabotagem do nosso futuro colectivo e da
nossa prosperidade". “Devemos reflectir sobre aquilo que não funcionou até
agora - reitera a mensagem - aprender daquelas experiências e assumir a
responsabilidade colectiva de libertar o nosso País das dificuldades actuais”.
“Nunca mais o nosso povo seja vítima, sem piedade, das nossas próprias mãos!”,
conclui o SSCC.
Recorde-se também o grande empenho
do Papa Francisco com o Sudão do Sul: um empenho que se concretizou a 11
de abril de 2019, com a convocação de um retiro espiritual na Casa Santa Marta
e no qual participaram Salva Kiir e os vice-presidentes designados. Aquele
acontecimento, fruto de um longo caminho, foi marcado por um gesto
particularmente significativo: o Pontífice ajoelhou-se e beijou os pés dos
políticos, invocando a paz para o jovem País.
Fonte: Vatican News
Nenhum comentário:
Postar um comentário