Alguns
padres e pastores têm feito apologia de armas e de intolerância. Essa violação
criminosa ao Evangelho da Paz e do Amor que Jesus propôs faz deles figuras
semelhantes aos talibãs que agora dominam o Afeganistão (Sergio Lima/AFP via
Getty Images)
Além dos assaltos e
crimes ocasionais de cada dia, a violência mais estrutural e permanente é
cometida por Estados e governos contra migrantes e estrangeiros e contra a
população mais pobre. Muitas vezes, essa violência é cometida em nome da
democracia e da salvaguarda da Paz
Marcelo Barros
No mundo inteiro, esta
semana é marcada pela terça-feira, 21 de setembro que a ONU consagra como Dia
Internacional de Promoção da Cultura de Paz. No hemisfério sul, este dia marca
o início da primavera e a ONU propõe que possamos todos(as) colaborar para que
desponte uma nova primavera de paz e justiça para o planeta e para todos os
povos da terra.
Filmes e noticiários de
televisão nos habituam de tal modo com notícias de violência e crueldade humana
que nem nos espantamos mais. E não deixa de ser trágico que, além dos assaltos
e crimes ocasionais de cada dia, a violência mais estrutural e permanente é
cometida por Estados e governos contra migrantes e estrangeiros e contra a
população mais pobre. Muitas vezes, essa violência é cometida em nome da
democracia e da salvaguarda da Paz. Por ocasião do recente Sete de Setembro,
aqui no Brasil, aquele que ainda ocupa o posto de presidente da República
incitou a população à violência. Depois, inconformado por não ter visto o banho
de sangue com o qual sonhara, recordou o velho princípio: Se queres a paz,
prepara a guerra.
O mundo inteiro vê com
sofrimento o modo como o Brasil está tratando os povos indígenas, ameaçados em
seus direitos fundamentais à Terra e a viver a partir de suas culturas
próprias. Ao mesmo tempo, a sociedade civil internacional denuncia o que se
passa no Afeganistão, destruído pelo império dos Estados Unidos e agora
entregue a um grupo extremista de direita. Em meio a tudo isso, a ONU se
prepara para dois encontros internacionais sobre mudanças climáticas e a crise
ecológica.
Há poucos dias, o papa
Francisco, Bartolomeu I (patriarca ecumênico de Constantinopla) e Justin Welby
(arcebispo primaz da Igreja Anglicana) assinaram juntos um apelo à humanidade
com o título Respostas urgentes à catástrofes ambientais e à injustiça
devastante.
A ONU compreende que
somente uma cultura de paz pode verdadeiramente vencer a violência. Neste
ponto, todas as religiões e tradições espirituais têm uma função essencial. Com
urgência precisam ajudar as pessoas, pertencentes às mais diversas tradições
espirituais, ou mesmo sem nenhuma pertença religiosa, a desenvolver a
consciência da responsabilidade por todos os seres vivos. Fazemos parte de uma
única família que partilha a mesma terra e bebe do mesmo poço.
Crentes das mais
diversas religiões devem rever a própria imagem de Deus, como autor e principio
da paz. Se cremos em um deus intransigente e severo que pede sacrifícios e
divide os seres humanos em crentes e descrentes, fiéis e infiéis, o resultado
disso será sempre uma cultura de intransigência e intolerância. Este tipo de
deus supõe organizações religiosas baseadas no dogmatismo e no autoritarismo de
suas hierarquias. Neste caso, esses grupos podem até falar de paz, mas, na prática,
plantam sementes de divisão entre as pessoas.
No Brasil de hoje,
alguns ministros e comunidades eclesiais, tanto católicas, como evangélicas e
também pentecostais, têm apoiado uma política de violência e confronto social.
Alguns padres e pastores têm feito apologia de armas e de intolerância. Essa
violação criminosa ao Evangelho da Paz e do Amor que Jesus propôs faz deles
figuras semelhantes aos talibãs que agora dominam o Afeganistão. Tanto os
talibãs islâmicos, como padres e pastores de extrema-direita seguem a religião
do fundamentalismo fanático, que pode ser islâmico, budista, judaico ou
cristão.
É preciso escutarmos
hoje e para a nossa realidade a palavra de Jesus à toda a humanidade:
"Bem-aventuradas as pessoas que promovem a paz. São elas que podem ser
chamadas de filhas e filhos de Deus" (Mt 5. 9).
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