O
papa Francisco acena perto de uma estátua de São Francisco de Assis enquanto se
encontra com pacientes em um hospital no Rio de Janeiro em 24 de julho de 2013
(Paul Haring/CNS)
São Francisco revelou que o Evangelho não é apenas religioso. É
um modo de viver em oposição aos valores de um mundo sem amor. Para Francisco,
o Evangelho significou encontrar Cristo nas pessoas mais pobres e testemunhar o
amor divino a toda humanidade
Marcelo Barros ( texto escrito em 04/10/2020)
Neste domingo, ao
celebrar a festa de São Francisco de Assis, o papa Francisco quis ir à colina
de onde, há mais de 800 anos, partiu o movimento franciscano. Ali, ele assinou
uma encíclica, dirigida a todos os seres humanos. Na carta Todos somos
irmãos e irmãs, o papa deixa claro que a vocação fundamental das Igrejas e
comunidades cristãs é "reunir na unidade todos os filhos e filhas de Deus,
espalhados pelo mundo" (Cf. Jo 11, 52).
Desde o século 13 até
hoje, Francisco de Assis tem sempre impressionado crentes e não crentes porque,
em seu modo de ser e de viver, encarnou, de modo radical, o Evangelho de Jesus.
Naquela época, na qual a Igreja se tinha tornado um poder ao lado de outros, em
uma sociedade profundamente desigual e injusta, Francisco revelou que o
Evangelho não é apenas religioso. É um modo de viver em oposição aos valores de
um mundo sem amor. Para Francisco, o Evangelho significou encontrar Cristo nas
pessoas mais pobres e testemunhar o amor divino a toda humanidade,
independentemente de raça, de cultura ou religião. Chamou de irmãos e irmãs até
os animais e os elementos da natureza.
Ao propor um encontro
com economistas jovens sobre a economia de Francisco e Clara, o papa deixa
claro que considera Francisco um criador de energias e processos dinâmicos
influenciadores e preparadores da construção de formas novas de viver,
conviver, crer e organizar a sociedade.
Desde que São Francisco
constituiu o seu movimento leigo, exigiu de todos os membros um voto: não
possuir nem portar nenhum tipo de armas. A história conta que esta opção
franciscana provocou nos séculos seguintes certa crise de falta de combatentes
em algumas regiões da Europa. Hoje, o Brasil se transforma em uma pátria
armada, como diz Gregório Duvivier.
O santo de Assis é
também referência de novo estilo de convivência na sociedade e nas Igrejas. Foi
a partir de São Francisco que as ordens religiosas aprenderam a fazer
capítulos, reuniões nas quais a comunidade assume a cabeça (caput), a
direção comum e tem a autoridade máxima. Os ministérios se tornam realmente
serviços e de caráter sempre temporário e não mais vitalícios como nas ordens
antigas. Daí vem a noção de sinodalidade, caminhar juntos.
Na linha do santo de
Assis, o papa Francisco insiste que esta deve ser a forma normal da Igreja e
escolhe a sinodalidade como assunto do próximo sínodo que, cada vez mais, passa
a ser não só dos bispos, mas de toda a Igreja.
Na realidade de nossas
dioceses e paróquias, ainda são muitos os bispos e padres que não sabem bem do
que se trata. Comportam-se mais como representantes de uma instituição sagrada
do que como testemunhas da boa notícia de que Deus inspira para o mundo inteiro
um novo modo de ser.
Em sua época, São
Francisco teve muita dificuldade de ser compreendido por seus próprios irmãos
e, em determinado momento de sua vida, foi considerado por muitos como um
santo, mas irreal e de certa forma superado. Como nunca ocorreu a nenhum outro
papa, atualmente, oposições e ataques ao papa Francisco surgem claramente em
meio à própria hierarquia romana e em meio ao clero católico.
Em sua mensagem à
assembleia geral da ONU, por ocasião do 75º aniversário das Nações Unidas, o
papa Francisco insistiu em nortear como a humanidade pode organizar a vida após
esta pandemia. Sua mensagem retoma muito da mensagem de São Francisco ao
insistir que somente a partir do cuidado com os mais pobres e vulneráveis se
pode construir um futuro digno para a terra.
Ao contrário do
governante brasileiro que negou a destruição da Amazônia, o papa denunciou o
descumprimento dos acordos com relação à Ecologia e pediu proteção para a Terra,
casa comum da humanidade e para a vida de todos os seus habitantes.
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