Está
em curso uma experiência nova no catolicismo: neste 17 de outubro, em todas as
dioceses do mundo, em simultâneo, inaugura-se um caminho sinodal. Na verdade, é
o início de um processo em três etapas, que se desenvolverão entre outubro de
2021 e outubro de 2023: a primeira será diocesana, a segunda organizar-se-á por
continentes e a culminar ocorrerá aquela do sínodo da Igreja universal. O tema
é o mesmo nas três etapas: “Para uma Igreja sinodal: comunhão, participação e
missão”.
A
palavra grega synodos é composta por dois termos: a preposição syn,
que significa com, conjuntamente; e o substantivo hodos,
que se traduz como caminho. O sínodo seria assim um caminho percorrido em
conjunto. Ora, se isso é alguma coisa inerente à natureza da própria comunidade
eclesial (por exemplo, a voz autorizada de São João Crisóstomo dizia que Igreja
e sínodo são expressões equivalentes), a verdade é que a dinâmica sinodal
pretende ser também um passo em frente, abrindo um amplo e inovador processo de
escuta e participação e discernimento sobre o presente e o futuro.
A
instituição contemporânea do sínodo deve a sua origem à redescoberta da
dimensão colegial operada pelo Concílio Vaticano II. De facto, foi na reta
final do Concílio que o Papa Paulo VI criou o “sínodo dos bispos”, cuja
primeira assembleia decorreu em 1967. Se daí em diante todos os papas
valorizaram o recurso ao sínodo (João Paulo II convocou dezena e meia, Bento
XVI cinco), Francisco tem-se mostrado particularmente envolvido na
intensificação da sinodalidade. Para compreender esta especial aposta do
Pontífice, a sua biografia pode ser útil, pois os episcopados da América Latina
destacam-se precisamente pelo ritmo sinodal que adotaram e que as importantes
assembleias-gerais de Medellín (1968), Puebla (1979), Santo Domingo (1992) e
Aparecida (2007) documentam com vivacidade. Por exemplo, o então arcebispo de
Buenos Aires, de nome Jorge Bergoglio, presidiu à comissão de redação do
documento final de Aparecida, e isso realçou a sua visibilidade no contexto da
Igreja.
Desde
o início do seu pontificado, o Papa tem sublinhado com profecia e realismo dois
elementos: o primeiro é que o caminho sinodal deve plasmar melhor a forma de
ser Igreja neste terceiro milénio; o segundo é que — e são suas as palavras —
“caminhar conjuntamente (leigos, pastores, bispo de Roma) é um conceito simples
de verbalizar mas não tão fácil de colocar em prática”. Os obstáculos foram
resumidos recentemente por Francisco como um aviso à navegação: existe o risco
do formalismo (patente na tentação de construir um evento de fachada em vez de
inaugurar instrumentos e estruturas de diálogo que relancem a participação dos
leigos); o risco do intelectualismo (que reduziria o sínodo a uma espécie de
grupo de trabalho especializado, descolado da realidade e das preocupações
concretas); e o risco do imobilismo (que repete de forma estafada, como
desculpa, o “sempre foi assim”).
Mas,
a par dos obstáculos, há também reais oportunidades que se abrem. O caminho
sinodal pode tornar a Igreja uma comunidade de escuta e de vizinhança, capaz de
espelhar a participação, a inclusão e o cuidado, deixando-se converter ela
própria pelo estilo de Deus. Isto tem mais hipóteses de acontecer, acredita
Francisco, se a Igreja não for ocasionalmente sinodal, mas aceitar caminhar para
uma Igreja estruturalmente sinodal. E uma citação que este mês de outubro tem
reaparecido é a de Yves Congar, um dos teólogos-chave do Concílio Vaticano II:
“Não precisamos de uma outra Igreja, mas de uma Igreja diferente.”
Cardeal Dom José Tolentino Mendonça
Fonte:
imissio.net
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