Foto
© Direitos Reservados
Está a decorrer deste este domingo e durante toda a semana, na capital
do México, aquela que é, provavelmente, a primeira grande concretização da
Igreja sinodal sonhada e desejada pelo Papa Francisco – a I Assembleia Eclesial
da América Latina e das Caraíbas (AEALC), com a participação de perto de 1200
participantes.
Por detrás destes representantes estão muitos milhares de outros
cristãos e outras pessoas que participaram na fase de escuta que se desenrolou
entre Abril e Agosto deste ano. Quase 70 mil, segundo afirmou na sessão de
abertura o presidente da CELAM – Conselho Episcopal Latino-Americano, que é
diretamente responsável pela organização deste mega-processo. Desse número, 47
mil fizeram-no no âmbito de grupos e comunidades de igrejas locais, 14 mil em
fóruns temáticos organizados localmente e 8.500 em iniciativas ou contactos
individuais.
Factos dignos de registo: a
esmagadora maioria (93 por cento) encontram-se nos seus países, devido ao
contexto pandémico, tendo os organizadores construído um complexo sistema de
participação a distância, pensando sobretudo nos trabalhos de grupos. Um outro
aspeto significativo refere-se à condição e qualidade desses participantes: 40
por cento são leigos, 21 por cento são padres e diáconos, 20 por cento são religiosos
e religiosas e outros tantos são bispos. Membros de outras confissões
religiosas são em número residual – cerca de uma dezena de representantes. Numa
análise de outros dados sociodemográficos entretanto divulgados, percebe-se que
a presença de jovens, com 6 por cento, é bastante limitada. Perto de dois
terços dos membros da Assembleia (64,7%) tem mais de 50 anos.
A Assembleia cujos trabalhos
se iniciaram nesta segunda-feira, dia 22, culminam um processo que teve início
em Janeiro deste ano, quando, em resposta à sugestão que lhe foi feita de uma
nova conferência geral do episcopado latino-americano, o Papa Francisco
respondeu apontando o caminho de uma via sinodal – uma conferência de todo o
Povo de Deus.
Essa via, no entanto, tinha
marcos fortes nas últimas décadas: para não ir mais atrás, a Conferência da Aparecida,
em 2007, cujo documento programático tem a mão do então cardeal Jorge Mario
Bergoglio, e, em 2018, o Sínodo extraordinário da Amazónia foram caminhos que
traduzem a marca de Francisco, mas exprimem também o prólogo dos preparativos
do atual Sínodo que envolve todo o povo de Deus.
Esta influência da Igreja
Católica da América Latina na Igreja universal é salientada em vários setores
da Igreja, como dá conta o jornalista inglês e biógrafo do Papa Austen
Ivereigh, numa entrevista dada ao site do
Instituto Humanitas da Unisinos e publicado também, no essencial, pelo site do
Vaticano.
Para ele, que está também a participar
presencialmente na Assembleia no México, e na esteira de declarações
de alguns teólogos, “a Igreja latino-americana hoje é a Igreja fonte da Igreja
universal, no sentido de que o resto da Igreja reflete este dinamismo em certa
medida”.
Esta ideia de fonte
inspiradora ou laboratório está a concitar as atenções de figuras da Igreja
como o cardeal Mario Grech ou o cardeal Hollerich, que vieram expressamente
participar e aprender com a longa experiência de escuta alargada e de
colegialidade, que a Igreja desta parte do mundo há bastante tempo desenvolve.
Numa mensagem enviada à
Conferencia, o Papa Francisco voltou a realçar a importância da escuta,
desejando que, no intercâmbio que ela permite se possa “escutar a voz de
Deus até escutar, com Ele, o clamor do povo, e escutar a vos do povo até
respirar nele a vontade a que Deus nos chama”.
Fonte:setemargens
Nenhum comentário:
Postar um comentário