Sínodo
é uma oportunidade como nunca tivemos, ainda que seja, afinal, o retomar do
estilo de uma Igreja que já foi assim, como lemos nos Atos dos Apóstolos
(Divulgação)
O
caminho que o papa desafia a percorrer envolve todos os cristãos e toda a gente
de boa vontade
O Sínodo da Igreja
Católica, que se encontra em fase de gestação, começa pela base. Isto exige uma
atenção particular, já que para muitas das paróquias e comunidades tudo é
novidade.
A maioria dos cristãos
vem do tempo em que a responsabilidade pela vida das comunidades era dos bispos
e dos padres, e só em tarefas absolutamente secundárias de alguns leigos e
sobretudo de leigas. "O sr. bispo é que vai dizer como é" ou "o
sr. padre é que sabe o que é para fazer" – era assim e, em boa medida,
continua a ser esta a ‘cultura’ dominante.
Ora o caminho que o
papa desafia a percorrer envolve todos os cristãos e toda a gente de boa
vontade. Diria mesmo que envolve mais ainda aqueles que se afastaram da vida da
Igreja, que gostavam que a Igreja fosse diferente, que têm mais que fazer ou em
que pensar. Francisco gostaria de ouvir todos. Quer que os padres assumam o seu
papel, mas não ocupem o lugar dos leigos ou decidam em seu nome. Eles, de
resto, não são uma casta à parte. São membros do povo de Deus, ainda que com um
ministério especial. Chegou a hora de assumirmos a responsabilidade que nos
cabe.
É uma oportunidade
como nunca tivemos, ainda que seja, afinal, o retomar do estilo de uma Igreja
que já foi assim, como lemos nos Atos dos Apóstolos. Por isso, vale a pena
tentar fazer esse esforço de escutar, perscrutar e tomar a palavra.
Enquanto as comissões
diocesanas preparam certamente a formação de animadores e guiões que ajudem as
paróquias e comunidades a avançar com o Sínodo nesta fase local, não será má
ideia que as pessoas conversem e os grupos troquem opiniões sobre o que é mais
adequado fazer.
Há já, na documentação
do Secretariado Geral do Sínodo,
várias indicações quanto aos objetivos e ao alcance da fase de escuta e
diálogo. É sabido que se pretende:
"a mais ampla
participação possível", incluindo quem está longe da Igreja, os mais
pobres, as minorias…
que esta etapa possa
dar origem, conforme as possibilidades, a reuniões a nível paroquial, encontros
inter-paroquiais, grupos ligados a escolas, associações locais, plataformas
sendo possível,
"o ideal é que haja oportunidades para os diversos grupos se escutarem uns
aos outros", refere o Vademecum
para além de reuniões,
conversas e encontros presenciais, pode-se sempre recorrer também a inquéritos
porta a porta ou a páginas abertas com esse fim nas redes sociais.
Tal como foram criadas
comissões diocesanas, é vantajoso que haja também, sempre que possível,
comissões paroquiais, comunitárias ou equivalentes.
Parece igualmente
lógico que se defina um plano de ação local e que se preveja uma campanha de
sensibilização e divulgação orientada não só para os que frequentam a Igreja,
mas para toda a comunidade, pelos modos considerados mais eficazes. Faz todo o
sentido que haja um período definido para a escuta e que ele seja aberto com
uma celebração específica.
O site do Secretariado
Geral do Sínodo disponibiliza diversos materiais de divulgação de iniciativas
que podem facilmente ser descarregados e adaptados com a informação da
paróquia, comunidade ou movimento.
Estas comissões devem
dinamizar o processo sinodal e coordenar as diferentes iniciativas, mas não
lhes cabe controlar o que se faz, nem iniciativas mais espontâneas que possam
surgir.
É importante assegurar
antecipadamente condições para o registo das sugestões e opiniões que surjam na
fase da escuta e combinar responsáveis por essa tarefa.
Quanto às modalidades
de escuta, elas terão de ser necessariamente adaptadas à realidade de cada
comunidade. As condições e os recursos, inclusive humanos, são
extraordinariamente diversos, mas em todos os contextos é possível e desejável
criar condições para o diálogo e a escuta, mesmo que de formas muito simples.
A este propósito, a
revista espanhola Vida Nueva publicou esta segunda-feira, 8,
um contributo em que sugere seis formas de fazer a consulta, não
necessariamente excludentes entre si. De uma forma sintética, aqui ficam:
Cada semana uma
pergunta – Eventualmente escolhida e adaptada de
entre as que o documento do Sínodo sugere ou outra; cada fim-de-semana, no fim
da celebração, cada paroquiano responde a uma.
Um inquérito – Havendo recursos para equipas de inquiridores que vão de
casa em casa a passar um conjunto breve de perguntas. Há cuidados especiais a
ter, mas é uma oportunidade de ouvir os conterrâneos. Pode fazer-se o
inquérito online, havendo aplicações digitais para isso, com a
vantagem de tratarem os resultados.
Grupos de
conversa – Durante uma hora, um pequeno grupo de
vizinhos, de amigos, desejavelmente com opiniões diversas sobre algumas
questões previamente definidas (a modalidade pode dirigir-se a grupos de
caraterísticas específicas: não crentes; idosos ou jovens; não praticantes;
responsáveis de instituições locais, etc.).
Assembleia
paroquial – Aberta a todos os membros da
comunidade paroquial, eventualmente repetida, se necessário, e a fazer em dia
de maior disponibilidade. Poderia incluir uma etapa de trabalho em grupos mais
pequenos, com animadores de grupo. Fazendo uma segunda, poderia centrar-se no
discernimento sobre a síntese da primeira.
Equipas, grupos e
comunidades paroquiais – É uma
modalidade análoga à anterior, com a vantagem de permitir uma gestão mais leve
e dinâmicas mais focadas em problemáticas.
Um conjunto amplo de
vozes de grupos e equipas – O objetivo desta modalidade é possibilitar e
potenciar o diálogo inter-grupos, numa comunidade, permitindo uma visão
panorâmica da comunidade e uma reflexão mais aprofundada.
Estas sugestões
remetem, pontualmente, para um conjunto de materiais de apoio ao processo
sinodal da Diocese espanhola de Palência, nomeadamente com grupos de
adultos, jovens, crianças e de outros coletivos.
Sete Margens
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