“E a estrela, que tinham
visto no Oriente, ia adiante deles, até que parou sobre o lugar onde estava o
menino” (Mt
9,2)
A
chave da celebração da Epifania é a universalidade da mensagem. No Natal nos
encontramos com o “Deus encarnado”; hoje celebramos o “Deus manifestado”. E a manifestação de Deus é
universal, enquanto ao tempo e enquanto ao espaço, ou seja, Ele está
continuamente se manifestando e se manifesta em toda a Criação e em toda a
humanidade. Tudo é transparência de Deus, ou melhor, Deus se deixa
“trans-parecer” em tudo e em todos; Ele sempre se manifesta a todos, embora só
consegue descobri-Lo aquele que O busca, todo aquele que tem um olhar
contemplativo e atento.
O
relato dos Magos vai nesta direção. Eles descobriram a estrela porque se dedicavam a
investigar o firmamento; foram capazes de levantar os olhos da terra. Eles,
apesar de estarem distantes, viram a estrela; a imensa maioria daqueles que
estavam ao redor do recém-nascido nem se deram conta, pois estavam preocupados
em encontrar Deus nos “lugares” manipulados pelas autoridades religiosas.
Outros estavam empenhados em descobri-lo no extraordinário, mas a verdade é que
Deus se manifesta exatamente nos acontecimentos mais simples e cotidianos. É
preciso ter uma fina sensibilidade para descobrir essa presença.
A
Epifania, como manifestação da presença de Deus no mundo, ultrapassa toda
fronteira geográfica, religiosa, racial..., preenchendo de luz, de verdade e de vida tudo quanto
existe em todo tempo e espaço.
Os Magos não eram judeus, mas estrangeiros;
viram brilhar a luz na noite da vida. São eles que buscam e encontram a Luz,
pois Deus não é patrimônio exclusivo de um lugar ou de uma nação. Deus se dá a
conhecer a todos, seja de que nação for.
Mas,
Herodes e a instituição do Templo não sabiam onde tinha de nascer a luz, o
Messias. “Os sábios e entendidos” conhecem tudo, mas não creem em nada;
conhecem a verdade, mas estão longe dela, pois permanecem fechados em suas
doutrinas e ritos; não dão um passo sequer para “seguir a estrela” em busca da
verdade e da esperança. Eles já sabem tudo sobre o Messias, mas, instalados em
seus privilégios religiosos e sociais, não movem um dedo sequer para comprovar.
Estão muito satisfeitos com o que tem. Permanecem com seu conhecimento e seus
livros.
A
mensagem do relato da Epifania nos faz compreender que o amor à Verdade e a
busca da Luz nos fazem nômades, ao contrário dos instalados e
satisfeitos. Quantas vezes, nós cristãos, temos conformado em indicar a direção
aos outros sem sair de nossos lugares atrofiados para acompanhá-los.
Esta
diferente atitude dos “magos” nos faz pensar.
O
fato de que em um determinado momento, os magos perguntem a Herodes e este, por
sua vez, pergunte aos que conhecem as Escrituras é muito interessante. As
Escrituras podem servir de pauta, podem nos indicar o caminho a seguir quando
atravessamos lugares ou tempos sem estrela. Mas o valor da Escritura depende da
atitude daquele que a lê. É preciso aproximar-se da Bíblia sem pré-juizos; não
para buscar argumentos a favor daquilo que já acreditamos, mas abertos ao que
ela vai nos dizer e indicar, embora seja diferente daquilo que esperamos.
Diante
de milhões de estrelas que brilham no firmamento, os magos descobrem a de
Jesus; diante de milhares de estrelas que chamam a atenção em nosso mundo,
precisamos descobrir a nossa.
A luz da estrela põe os Magos em
marcha. Preciosa mediação que mobiliza sua busca e direciona suas vidas para o encontro. Os sinais são mínimos,
cotidianos, demasiado simples.
Mateus
descreve a reação deles afirmando que “ao ver a estrela, encheram-se de imensa alegria”.
Buscavam
o Rei dos judeus e se encontraram com um Menino em um presépio. Buscavam a Deus
e viram um Menino. Buscavam um Palácio real e encontraram com uma gruta de
pastores. Ficaram assustados e assombrados com a descoberta. Conta o relato de
Mateus que aqueles sábios do Oriente chegaram até onde estava o Menino, e
caíram de joelhos (prostraram-se) diante dele. Não diz que se ajoelharam, mas
que caíram, literalmente. É algo que na vida dos seres humanos acontece poucas
vezes.
Diante
do Mistério não se discute; diante do mistério prostra-se. O Mistério não é
para ser compreendido, mas adorado. Diante do mistério de Deus é preciso que a
razão se ponha de joelhos; frente ao mistério de Deus só resta a admiração, o
espanto. Quando queremos conhecer “algo” de Deus, são melhores os joelhos que a
razão. Quando queremos “entrar” no mistério de Deus, melhor é nos determos à
porta para adorá-Lo. Quando queremos encontrar a Deus, é melhor caminharmos de
joelhos.
Os
representantes religiosos e sociais de Israel não foram a Belém para adorar o
Menino Deus. Eles “conheciam”, de algum modo, o mistério, sabiam que o Messias
devia nascer em Belém, mas não quiseram ir ao seu encontro para lhe oferecerem
o tesouro de suas vidas, pois estavam petrificados em suas sacralidades
doutrinárias e legais. A subida messiânica a Jerusalém ficou truncada desde o
nascimento de Jesus, pois esta cidade nunca o acolheu.
Os
representantes religiosos da época (os sacerdotes) e a cultura do momento (os
letrados) se limitaram a cumprir seu papel. Deram toda informação necessária a
Herodes para chegar a Jesus, mas, acomodados e instalados em seu saber e
posição social, não sentiram o mínimo interesse em se deslocar até Ele; talvez
não sentissem necessidade de libertador algum.
Nossa
história de salvação está repleta de pessoas que, à luz da normalidade da vida,
são diferentes. São homens e mulheres que acolhem, em sonhos ou despertos, as
delicadas luzes que só o Deus de amor pode presentear com sua delicadeza. Com
sua luz tênue e constante em seu interior, apontam sempre para Aquele que é
Fonte de toda luz.
Na
experiência da vida cristã buscamos ser como os magos: desejosos de encontrar a Vontade de
Deus, atentos para reconhecer “estrelas” na noite e ágeis para segui-las,
capazes de pedir ajuda quando nos perdemos e apaixonados por descobrir um
caminho que, no fundo, é o caminho do mesmo Deus.
Como
os Magos, também nós nos dirigimos primeiramente aos palácios de nossa
sociedade do bem-estar e aos “Herodes” contemporâneos, até que nos damos conta
de que ali não encontramos o que estamos buscando, que ali se anula e se
anestesia a vida, essa vida de Deus que quer crescer em nós.
É
preciso, de tempos em tempos, viver a atitude da “prostração” como gesto de
humildade, descendo do pódio existencial quando acreditamos ser os melhores, os
mais sábios, os mais perfeitos...
Epifania é esvaziamento de nosso “ego” para que a Luz de Belém
seja a nossa referência constante.
Texto bíblico: Mt 2,1-12
Na oração: É próprio, neste momento festivo, fazer esta pergunta:
quem ou o que foi estrela, revelação em minha vida, neste ano que findou? A quê estrela sigo? Para onde ela me conduz?
-
Ou, pelo contrário, perdi a estrela de minha vida e são sei para onde vou?
-
Sou estrela-guia para os outros?
Pe. Adroaldo Palaoro sj
Fonte:centroloyola.org.br
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