Não
é a vida que nos desilude. Ou as pessoas. Ou os cenários. Ou mesmo as viagens
de sonho que pensávamos que íamos fazer.
Não
é o trabalho que nos desilude. A profissão. A vocação. A vida familiar. Ou a
vida consagrada. O que nos desilude é o tamanho das nossas expectativas. O que
nos desilude são as esperanças pouco condizentes com a realidade. Aquilo que
idealizamos. Aquilo que esperamos de mão estendida, ainda que não haja ninguém
pronto para nos dar coisa alguma.
O
que nos dificulta a vida não são as pessoas, mas, antes, as expectativas que
temos sobre elas. De que nos sejam fiéis. De que não falhem. De que
correspondam. De que sejam o mais perfeitas possível.
O
que nos trava o quotidiano não é a rotina nem o trabalho que rima com a mesmice
do costume. São as expectativas. A esperança que tínhamos de que nos iam ouvir.
De que nos atendessem todos os pedidos. A vontade de mudar tudo quando éramos
só nós que estávamos preparados para um feito dessa natureza.
O
que nos bloqueia e nos derruba são as expectativas. E a diferença abismal do
que acontece para o que gostaríamos de ver acontecer.
Talvez
nos ajude o exercício de esperar menos. De nos deixarmos surpreender pelo que
ainda está por suceder. Enquanto não confiarmos no processo, por muito que este
inclua a nossa própria dor ou mágoa, não viveremos alinhados com o que pode
haver. Com o que pode ser.
Gostaríamos
que tudo fosse como planeamos. Como imaginávamos quando tínhamos a força de
tantos sonhos. Mas sabemos que não é possível. Que tudo nos pode varrer a
tranquilidade enquanto perdemos tempo a imaginar cenários de perfeição.
É
quando não se espera nada de ninguém que as pessoas são capazes de nos
surpreender profundamente. E pela positiva. E pelo bem.
É
preciso esperar menos. Ir andando sem ter sempre tudo definido nos quadrados
castradores das expectativas. Das preocupações.
Quem
nos dera sabermos viver como tem de ser. E esperar (só) o que tiver de vir.
Marta Arrais
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