segunda-feira, 11 de abril de 2022

MONS. VICENTE FERREIRA: "A IGREJA PERMANECE MUITO LENTA SOBRE ESTE TEMA DA ECOLOGIA INTEGRAL"


Mons. Vicente de Paula Ferreira

"A principal e fundamental alternativa é que as nossas comunidades têm de ter a soberania para escolher o seu modo de vida, e é isso que eu faria muitas vezes, porque acaba por impor os seus projetos".

"Um ponto que é fundamental é a disputa sobre a linguagem, para a narrativa, para a visibilidade. Infelizmente, este sistema hegemônico e capitalista que existe, que só pensa no benefício, tem o poder de comunicação nas suas mãos".

"Não fomos lá só pedir ajuda ao Vaticano, fomos oferecer a nossa história, a nossa espiritualidade, a nossa defesa dos nossos povos e as experiências específicas que temos no nosso território".

"A Igreja deve acelerar o seu processo de resistência e defesa dos nossos povos"

O objetivo da Caravana para a Ecologia Integral no Tempo Extractivismo, composta por 10 pessoas da Colômbia, Equador, Honduras e Brasil, que visitaram a Alemanha, Itália, Bélgica, Áustria e Espanha de 22 de março a 6 de abril, foi o objetivo da Alemanha, da Alemanha, da Itália, da Bélgica, da Áustria e da Espanha de 22 de março a 6 de abril. para visibilizar "todas as lesões que estes megaprojetos extrativos causam à América Latina".

Um deles foi o Mons. Vicente de Paula Ferreira, secretário da Comissão Especial para a Ecologia Integral e a Mineração da Conferência Nacional Brasileira dos Bispos (CNBB), que, de volta ao Brasil, explica nesta entrevista o que ele viveu durante as reuniões e o que isso significa para o que isso significa para a comunidades afetadas por mineração, vítimas de crimes que graves o futuro de muitas pessoas.

Qual foi a sua experiência de poder visitar vários países europeus para dar visibilidade à realidade da mineração na América Latina?

A Caravante para a Ecologia Integral em tempo de extratividade, fomos um grupo de 10 pessoas da Rede de Igrejas e Minas, Colômbia, Equador, Honduras e Brasil. A palavra é exatamente isso, trazendo todos os ferimentos que estes megaprojetos extractivos causam à América Latina.

Mesmo trazendo crimes como Brumadinho, Mariana, também carregamos a realidade de Piquia de Baixo em Maranhão, Putumayo e Caldas, na Colômbia, para mostrar entidades eclesiais e civis de cinco países da Europa, que eram a Alemanha, Itália, Bélgica, Áustria e Espanha, essas vozes. Trata-se não só de queixas, mas também de anúncios, como nos respondemos várias vezes quando nos perguntaram: "Mas qual é a alternativa?

A principal e fundamental alternativa é que as nossas comunidades têm de ter a soberania para escolher o seu modo de vida, e é isso que eu faria muitas vezes, porque acaba por impor os seus projectos à custa da expulsão das famílias dos seus territórios, com o ar, a poluição da água e a devastação da natureza. Esta foi a experiência que tive nesta caravana.
Qual foi a reacção da sociedade civil e da Igreja na Europa ao que foi relatado e anunciado?

Muita empatia, muita aceitação, sensibilidade, embora consideros que a Igreja continua muito lenta nesta questão de Laudato Si, de ecologia integral. A própria sociedade, nas suas grandes organizações, não levou a sério estes tratados de proteção ambiental para a luta contra o aquecimento global. Embora nos sintamos impotentes, os grupos que nos falaram eram muito receptivos, e fomos até capazes de reforçar as nossas alianças.

Aqui no Brasil, por exemplo, há projetos específicos que são apoiados por algumas instituições eclesiásticas, que nos ajudam aqui a construir projetos de vida para as nossas comunidades. Senti muita empatia, muita bem-vinda e também compromissos. Por exemplo, do ponto de vista da sociedade civil, há um compromisso por parte das organizações de construir a lei da devida diligência, que a Europa está a construir, que é precisamente responsabilizar as empresas em toda a cadeia de produção, e também defender aqueles que são vítimas destes processos extractivos.

Como podemos ajudar a Igreja na Europa, na América Latina, em todo o mundo, a tomar consciência de que os cuidados da Casa Comum são uma missão de cada batista e da própria Igreja?

A primeira é passar por um processo de conversão pessoal. Não podemos esperar a iniciativa dos outros. Se tivermos consciência, vamos fazer o que está ao nosso alcance. No meu caso, isto é visível, onde começar? Através de um testemunho específico nos territórios, temos de abraçar uma causa específica, não é necessário falar de coisas abstratas. No meu caso, acompanho Brumadinho, e estou lá ao lado das comunidades. E muitos outros que aparecem porque abraçam causas concretas.

Um ponto que é fundamental é a disputa sobre a linguagem, para a narrativa, para a visibilidade. Infelizmente, este sistema hegemônico e capitalista que existe, que só pensa no benefício, tem o poder de comunicação nas suas mãos. Por exemplo, Vale, mostra o que faz, mas o que não faz, e a dor das pessoas que sofrem dos seus crimes, não o mostra. Por isso, ajudar a Igreja também é ajudar a tornar isto visível para os nossos próprios líderes e fiéis. Outro ponto que é a formação, o desenvolvimento de materiais formativos para os grupos de cateesis, para os jovens, para as famílias, para sensibilizar a nossa Igreja.
Acompanhou de perto a realidade de Brumadinho, um dos maiores crimes ambientais da história do Brasil. Para as pessoas que vivem em Brumadinho e outras regiões fortemente afetadas pelas consequências da mineração, o que faz este tipo de iniciativas, como a caravana que acabou de terminar?

Mostrar que estas comunidades estão feridas e, ao mesmo tempo, têm vida, sonhos, querem viver uma vida feliz, nós fazemos com grande entusiasmo, colocando Brumadinho à mesa das agências internacionais, no discurso da Igreja no Vaticano, no Dicasterium para o Desenvolvimento Humano Integral, carregando os casos de Mariana, de Piquiá, mostrando que o nosso povo está sofrendo, e que eles têm A vida da igreja, ele tem sonhos, tem desejos, que não passam necessariamente pela mineração.

As pessoas, as comunidades, têm outros projetos e a sua autonomia deve ser respeitada para decidir o seu futuro. A caravana deu um grande impulso para mostrar a memória de tudo o que está a acontecer.


Falou sobre a visita ao Dicaster de Desenvolvimento Humano Integral. O que significa esta atenção do Vaticano para as Igrejas e Minering?

Significa muito, eu fiz a sugestão de que devíamos andar mais juntos. Tivemos uma reunião, o Dicasterium está em transição, e fomos recebidos pela coordenação, pela irmã Alessandra Smerilli, e inseriu-nos em movimentos muito importantes. Nós não só pedimos, mas também para levar a nossa experiência, e penso que a experiência de resistência na América Latina, com tantas vidas, direitos humanos e natureza, pode trazer muito para o Vaticano, para o Dicasterium.

Não fomos lá apenas pedir ajuda ao Vaticano, fomos oferecer a nossa história, a nossa espiritualidade, a nossa defesa dos nossos povos e as experiências específicas que temos no nosso território. Também trouxemos isso como uma tarefa, de nos aproximar ainda mais deste Dicasterium, que é o lugar mais importante para discutir, em termos da Igreja universal, da Igreja Católica, a questão da ecologia integral.
Olhando para o futuro, pensando na vida das comunidades que são acompanhadas por Iglesias e Minas, o que pode esta caravana e as luzes que encontraram nos diferentes lugares e entidades visitados?

Não podemos resistir ou propor alternativas se não conhecermos profundamente a nossa realidade global. Estes problemas, Mariana, Brumadinho, não são apenas problemas locais, este é um estilo, é o resultado do capitalismo global, que é profundamente questionado. E como um modelo de economia global, profundamente ferido e causando danos graves a tantos milhões de pessoas no mundo e na natureza.

Mostrar uma visão crítica para esta realidade, não para sofrer com o que sofremos em tantos territórios, que é alienação. É como se a mineração fosse assim, sempre foi, ainda vai, e não podemos mudar. Primeiro temos de levantar a questão, questionar este modelo, depois temos de demonstrar, como fizemos, que as comunidades estão vivas, têm projectos. Os projectos são muitas vezes sacrificados em nome do lucro que nem sequer se mantém no nosso território, mas que vai para o estrangeiro.

Mostrar às comunidades a sua importância, a importância de seu canto, sua dança, sua família, seu rio, sua família, sua agricultura familiar, seus pequenos projetos comerciais, seus pequenos projetos comerciais, sua culinária, sua própria forma. Isto é muito forte. A caravana mostra como ser latino-americano, isso ajuda muito.

Qual é a sua mensagem para os bispos e para a Igreja do Brasil e da América Latina sobre a realidade da mineração e as consequências que ela está a ter na vida das pessoas?

Esta questão não é uma questão secundária, é transversal, é fundamental, é urgente. Agora, a guerra vai sobrecarregar a nossa América Latina e África, porque haverá escassez de matérias-primas. Nesse caso, os processos de destruição dos nossos territórios, de exploração serão acelerados.

A Igreja deve acelerar o seu processo de resistência e defesa dos nossos povos. Mesmo, e isso é importante para salientar, propomos a alienação das empresas mineiras que destroem os nossos territórios, os nossos povos. Nós, como Igreja, não podemos aprovar estes modelos económicos, nem mesmo recebendo doações. Precisamos de saber onde estão os nossos investimentos, quais são os bancos, de onde vem esse dinheiro.

Não posso aceitar que um valor, que mata tantas pessoas em Brumadinho, então vem "gentilmente" para reformar a minha Igreja. Ele mata a pessoa e depois vai com as flores para o cemitério e as pessoas vão aplaudir porque ele é bom, porque ele doou. É ela que está a matar o nosso povo.

A própria alienação, não receber recursos, não investir, não para apostar neste modelo. É uma tarefa muito importante para nós que sejamos coordenadores de diocese, para os bispos, para os sacerdotes, fazer sempre este discernimento de onde estamos a investir os nossos recursos. São fundos éticos ou fundos criminosos?

E isso deve fazer-nos, ajudar-nos, como criadores de opinião, a ter a coragem de o dizer publicamente. Mostra-nos nas redes sociais, mostre-nos na televisão, nas homilidas, onde estamos, estes projetos. Porque, na verdade, o nosso povo não pode defender-se, e temos uma responsabilidade social para com tantas pessoas, temos uma voz. O que vivemos é a favor destas vítimas, e não a favor do sistema que está a prejudicar o nosso povo e a terra.

Religión Digital

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