Dom João Francisco
Salm, presidente da Comissão dos Ministérios Ordenados e da Vida Consagrada da
CNBB, concede entrevista ao Vatican News e confirma que a realidade das
vocações tem preocupado a Igreja no Brasil: "tem caído muito as vocações
da Vida Consagrada com congregações que estão com membros praticamente todos
idosos. É preocupante porque dentro de 10, 15 anos não teremos uma reposição
com novas vocações".
Ouça a reportagem especial e compartilhe
Andressa Collet e
Silvonei José - Vatican News
A visita ad Limina
dos bispos gaúchos ao Vaticano na primeira semana de maio foi uma oportunidade
também de conhecer o trabalho realizado pelos prelados, como de dom João
Francisco Salm, bispo de Novo Hamburgo/RS e presidente da Comissão dos
Ministérios Ordenados e da Vida Consagrada da CNBB. Os organismos atuam em
questões ligadas à Pastoral Vocacional, ao serviço de animação vocacional,
à formação dos presbíteros, além da vida dos padres, dos diáconos e das pessoas
dos institutos de Vida Consagrada.
Em entrevista a
Silvonei José, do Vatican News, dom João tocou num assunto delicado, já que a
realidade das vocações tem preocupado a Igreja no Brasil:
“Tem caído muito as
vocações da Vida Consagrada e temos congregações que estão com seus membros
praticamente todos idosos ou idosas, que é o caso mais comum entre a Vida
Consagrada feminina. É preocupante isso, porque dentro de 10, 15 anos esse
pessoal não existirá mais entre nós, e nós não estamos tendo uma reposição com
novas vocações.”
A preocupação de
dom João é confirmada com os dados divulgados em 2022 pelo Anuário
Estatístico da Igreja (Annuarium Statisticum Ecclesiae), o mais recente, mas
referentes aos anos de 2019 e 2020: o número de batizados no mundo está
aumentando proporcionalmente à população, mas o número de padres e
bispos diminuiu. O número de candidatos ao sacerdócio caiu de 114.058
em 2019 para 111.855 em 2020, com exceção da África. O número de
seminaristas na América, por exemplo, diminuiu em 4,2%.
Esses dados, no
entanto, segundo reportagem da ACI Digital, não alteram o peso continental do
número de padres: a Europa representa 40% dos padres do mundo, a América 29,3%,
a Ásia 17,3%, a África 12,3% e a Oceania 1,1%.
As causas do fenômeno
Segundo dom João, a
causa na diminuição tem uma dimensão complexa, mas começando pela mudança de
época e o modo mais superficial de viver a fé. Para tentar mudar essa
realidade, a partir da Festa de Cristo Rei deste ano, em 20 de novembro, irá
partir um Ano Vocacional no Brasil, aprovado em assembleia dos bispos do ano
passado. Além disso, a Igreja tem investido muito na Iniciação à Vida Cristã,
de inspiração catecumenal, para levar os catequisandos ao encontro com
Cristo e à pertença à comunidade para juntos se tornarem missionários:
"Para termos
vocações à Vida Consagrada e à Vida Sacerdotal, precisamos dar aos possíveis
candidatos a possibilidade da experiência do encontro com Jesus. Outra coisa é
que estamos num tempo de comunicações, em que crianças e jovens estão logo em
contato com o mundo, com ofertas mais diferentes e nem sempre com a mesma
intensidade têm contato com aqueles que são os nossos modos de participar da
Igreja."
Outra causa
salientada pelo bispo de Novo Hamburgo tem origem em famílias com poucos
filhos, "numa época altamente desafiadora para levar o jovem ao
encontro com Jesus":
"Essa crise
faz parte de um novo passo, de uma nova realidade. Nós vivíamos num tempo em
que nas comunidades o ambiente era de Igreja. Eu vivi não só numa família
cristã, mas numa comunidade cristã em que todos nós praticávamos juntos; os
filhos eram educados por todas as famílias; e vivíamos a fé. Então,
era espontâneo, era natural nascer ali, criar-se ali e ser um cristão
católico. Hoje não é mais assim. O cristão não nasce cristão, ele se
faz."
“Assim como nós, no
nosso tempo, os jovens de hoje têm dentro de si o desejo de Deus, de viver
aquilo que a proposta do Evangelho. Nós precisamos achar um jeito de apresentar
isso às crianças e aos jovens.”
Projeto de vida para ser cristão
Um trabalho
importante enaltecido por dom João diz respeito à educação ao Evangelho dentro
de casa, na família, para voltar "ao primeiro anúncio", porque hoje
existe "a quebra da evangelização, já que os pais não falam mais aos
filhos de Jesus Cristo e da Igreja, não ensinam nem o sinal da cruz e muitos
nem levam para batizar". A "experiência do encontro", segundo o
bispo, deve acontecer para se redescobrir a vivência cristã e, assim, enfrentar
o mundo, e não contrário, esperar o mundo estar favorável para se criar
oportunidades.
Fonte: Vatican News
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