sábado, 21 de maio de 2022

SOCIEDADES DE JUSTIÇA E DE PAZ: AS RELIGIÕES E O SEU SERVIÇO DE TRANSFORMAÇÃO SOCIAL

Não haverá paz enquanto a justiça e a fraternidade não forem realidades na vida dos sofredores e sofredoras do mundo

Felipe Magalhães Francisco*

Uma das grandes preocupações que mais angustiam os brasileiros e brasileiras diz respeito às muitas violências que nos ameaçam. A sensação de insegurança, de fato, é um drama social; e essa problemática é atravessada por muitas questões e razões. Desejar a paz para si e para os outros é um dos votos mais comuns em ocasiões tais como aniversário, natal, réveillon... Já virou até motivo de piadas as entrevistas com as candidatas à Miss Universo, pois se tornou um clichê o cândido desejo delas de verem a paz mundial. O legítimo desejo pela paz revela como a vida poder ser boa e harmoniosa, marcada de dignidade.

Nosso mundo está marcado por violências muitas, em tantos níveis e expressões, que a vida – e não só a humana! – está sempre sob ameaça. Falamos tanto do horror das duas grandes guerras, há tão pouco tempo sofridas – é preciso mesmo rememorar para não repetir –, enquanto estamos atravessados, em todo o mundo, por guerras sem fim. Vamos entrar no segundo mês em que a Ucrânia foi invadia pela Rússia e que o horror estacou bandeira naquele chão. Também a situação da Palestina, tão violada por uma das maiores potências bélicas do mundo, Israel, estarrece-nos, apesar de não ser pauta tão presente nos noticiários. E há outras tantas guerras, tal como a que vitima a populações jovem e negra no Brasil, consequência cruel de um racismo ainda longe de ser superado...

Não haverá paz enquanto a justiça e a fraternidade não forem realidades na vida dos sofredores e sofredoras do mundo. As religiões têm um papel muito importante na transformação social, na medida em que elas atuam para cooperar com a formação da consciência humana. Há, no entanto, muitos traços presentes em expressões religiosas diversas que, desvirtuando-se de seu genuíno propósito, acabam por mediar ainda mais violência. Exemplo tão próximo de nós é o fundamentalismo religioso em movimentos cristãos, sobretudo em perspectiva neopentecostal, que se volta contra as religiões de matriz-africana, produzindo violências que vão desde o discurso ao ato de destruição.

Há muitos teólogos e teólogas, bem como estudiosos de religião, que têm se dedicado à reflexão sobre a importância do fenômeno religioso em nossas sociedades, bem como apontando caminhos para que as religiões se apropriem mais concretamente de sua responsabilidade na transformação da sociedade, como lugares onde a humanização possa de fato se dar. Entre as religiões, urge, também, um esforço de cooperação e diálogo, para que sirvam à sociedade, inspiradas nas singularidades das fés, como mediadores de justiça e de paz.

É sobre todas essas questões que nosso Dom Especial de dedica, nesta semana. No primeiro artigo, A des-figuração do humano e a figuração do mal, no contexto da guerra, Leandro Nogueira dos Santos se dedica a refletir sobre a guerra como princípio de desumanização e expressão efetiva do mal. Danielle Barbosa Negromonte, no artigo A potência da experiência religiosa na construção de uma cultura de paz, reflete sobre a força da experiência religiosa – e, em consequência da própria religião – como caminho efetivo para a transformação da sociedade, em vistas à paz. Por fim, Renato Carvalho de Oliveira, no artigo O poder do diálogo inter-religioso em tempos de intolerância religiosa, lança o olhar a respeito da importância do diálogo inter-religioso para a formação de uma cooperação inter-religiosa, que supere a intolerância e os fundamentalismos.

Boa leitura!

*Felipe Magalhães Francisco é teólogo. Articula a Editoria de Religião deste portal. É autor do livro de poemas Imprevisto (Penalux, 2015). É co-autor de Teologia no século 21: novos contextos e fronteiras (Saber Criativo, 2020). E-mail: felipe.mfrancisco.teologia@gmail.com 

Dom Total

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