terça-feira, 26 de julho de 2022

DOM VICENTE FERREIRA: BRUMADINHO PASSANDO DO "LUTO DE TODOS PARA A LUTA COMUM"

Três anos e meio após a tragédia de Brumadinho
Monsenhor Vicente Ferreira

"Um trauma causado por um sistema que viola a vida em nome do acúmulo de riqueza "

" Sabendo que a tragédia poderia ter sido evitada. Que foi causada por negligência e que nenhuma ação foi tomada diante de riscos conhecidos "
O crime de Brumadinho completa três anos e meio, e diante disso, Monsenhor Vicente Ferreira, Bispo Auxiliar de Belo Horizonte, denuncia mais uma vez “que as estratégias de reparação continuam a violar territórios, grupos e indivíduos em nome do lucro , como se tudo, gentilmente e com muito dinheiro, teria sido feito para o retorno de um equilíbrio socioambiental".

O texto denuncia o sofrimento, " um trauma causado por um sistema que viola a vida em nome do acúmulo de riquezas ", mas também quer mostrar que "no drama de um longo luto aparecem raios de esperança", nascidos da resistência . Em primeiro lugar, denuncia o sofrimento psíquico causado pelo "enfraquecimento das relações interpessoais, que compromete as interações no trabalho e na vida social em geral".

Segundo o bispo, "o sofrimento psíquico do ser humano, portanto, está relacionado à vivência da impotência, à insegurança em relação aos nossos vínculos afetivos", algo que em Brumadinho se torna realidade no fato de " saber que a tragédia poderia ter sido evitado. Que foi causado por negligência e que nenhuma ação foi tomada diante de riscos conhecidos ."

Monsenhor Vicente Ferreira relaciona a tragédia de Brumadinho a "três ecologias: a natural, a humana e a social". Ele considera o ocorrido em Brumadinho como " uma ferida traumática ", que "impôs violentamente a dor da separação amorosa" e fez "a população se sentir desrespeitada, ferida, angustiada e triste. A experiência da morte empobreceu o cotidiano da cidade. A vida tornou-se insípida e insubstancial."
O texto analisa os "sintomas observados em Brumadinho e Região após o rompimento da barragem do Córrego do Feijão", que teve consequências ecológicas: naturais, humanas e sociais , ocasionando "a alta demanda por consumo de álcool/drogas, no gênero masculino; e a demanda excessiva de psicotrópicos benzodiazepínicos, como Clonazepam e Diazepam, no gênero feminino", bem como o aumento da prostituição e outros fenômenos relatados no texto, no campo da saúde física e mental.

O bispo auxiliar de Belo Horizonte vê no povo de Brumadinho desamparo e profundo abandono. Diante disso, fala do dilema de " recuperar a capacidade de amar. Amar a si mesmo e aos outros ". Ele propõe "fazer desse desamparo uma força de agressividade externa, em busca de justiça, e não autoagressiva. A indignação deve se tornar uma força vital da fé e da política".

Por fim, o texto analisa as consequências da melancolia, que produz "um desânimo profundamente doloroso e faz perder a capacidade de amar a si mesmo e aos outros", junto com outras situações que o bispo passa a relatar, como "a auto-recriminação e a insultos auto-infligidos, como ridículo, ignomínia e grande desgraça". Da desgraça ao suicídio.” Diante disso, propôs passar “do luto de cada um para a luta comum” , com base na Ecologia Integral.

Nesta perspectiva, Monsenhor Vicente Ferreira apela à " verificação do alto poder destrutivo causado pela dependência mineira ", chegando a pedir a saída da Vale SA. Destaca a importância de tudo o que a Igreja e os movimentos sociais fazem, que considera sinais de vida, que "são novos céus e nova terra, onde habitará a justiça". 

Religión Digital

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