
• A Independência do Brasil foi proclamada em 7 de setembro de 1822, pelo então Príncipe Regente, Dom Pedro de Alcântara | Reprodução
Por todo o Brasil ecoam os preparativos para as comemorações do 7 de setembro, quando se completam 200 anos do lendário grito da independência do Brasil, em relação ao reino de Portugal. A história mostra que o Brasil apenas mudou de donos. A imensa maioria da população continuou na servidão e na dependência de uma minoria que se adapta às conveniências do momento, mas mantém o controle social e merece bem o nome dado por Jessé de Souza: “a elite do atraso”.
Desde que os europeus invadiram essas terras, escravizaram os povos originários deste continente e sequestraram milhões de africanos/as como escravos/as, o povo oprimido nunca deixou de se organizar, lutar por seus direitos e sempre gritar por vida e dignidade.
Agora, no contexto das comemorações oficiais dos 200 anos da (in)dependência e da instrumentalização político-partidária que o atual desgoverno federal ameaça fazer no dia 7 de setembro, é importante nos juntarmos todos e todas no Grito dos Excluídos e Excluídas.
Será o 28º grito organizado, a partir da iniciativa, que, desde 1995, reúne movimentos populares e pastorais sociais da Igreja Católica e grupos ecumênicos de outras confissões de fé para gritar “A vida em primeiro lugar”. De modo especial, o grito deste ano ecoará o grito que, por cinco séculos, denuncia o genocídio praticado contra os povos originários, revela a crueldade imensa contra os povos negros e o racismo estrutural que faz do Brasil um dos países mais desiguais e violentos do mundo.
Esse 28º Gritos dos excluídos e excluídas toma como tema: “Vida em primeiro lugar. Terra, Teto e Democracia. Brasil, 200 anos de (In)dependência. Para quem?”. De fato, como falar em independência, quando trinta milhões de brasileiros/as passam fome e um número bem maior vive em insegurança alimentar? Como fazer festa quando nossas cidades e capitais têm seus centros convertidos em ruínas, como depois de uma guerra?
Nossas praças abrigam uma multidão de pessoas sem teto e sem trabalho, que com suas famílias, tentam sobreviver nos escombros do que antes era um país que, há mais de uma década, tinha saído do mapa da fome.
O Grito dos Excluídos e Excluídas não se restringe apenas a uma manifestação de rua que ocorre no dia 7 de setembro. Significa um conjunto de iniciativas que se dão em um processo de construção coletiva de cuidado popular, de debates e mobilizações nas áreas da educação, saúde e defesa da natureza agredida. Tudo para que a vida das pessoas e da Mãe- Terra esteja em primeiro lugar.
Esta mobilização dos Mutirões pela Vida coincide com a campanha eleitoral mais importante e mais difícil das últimas décadas. Para que, de fato, possamos caminhar para uma verdadeira independência do nosso povo, precisamos garantir que a mentira não seja vencedora. O restabelecimento da democracia, mesmo formal, depende do nosso voto.
Nesse momento, é importante que as pessoas que professam qualquer religião ou simplesmente buscam uma espiritualidade humana testemunhem que, se Deus existe, só pode ser Amor e Justiça. Deus não é de direita e está do lado do povo que busca por Terra, Teto e Democracia.

Marcelo Barros é monge beneditino e teólogo especializado em Bíblia. Atualmente, é coordenador latino-americano da Associação Ecumênica de Teólogos/as do Terceiro Mundo (ASETT). Assessora as comunidades eclesiais de base e movimentos sociais como o Movimento de Trabalhadores sem Terra (MST). Tem 45 livros publicados dos quais está no prelo: "O Evangelho e a Instituição", Ed. Paulus, 2014. Colabora com várias revistas teológicas do Brasil, como REB, Diálogo, Convergência e outras. Colabora com revistas internacionais de teologia, como Concilium e Voices e com revistas italianas como En diálogo e Missione Oggi. Escreve mensalmente para um jornal de Madrid (Alandar) e semanalmente para jornais brasileiros (O Popular de Goiânia e Jornal do Commercio de Recife, além de um jornal de Caracas (Correo del Orinoco) e de San Juan de Puerto Rico (Claridad).
O texto reflete a opinião pessoal do autor, não necessariamente do Dom Total. O autor assume integral e exclusivamente responsabilidade pela sua opinião.
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