Parte da hierarquia católica resolveu
manifestar seu posicionamento político | Reprodução
Autoridades eclesiásticas lançam
manifesto contra o presidente da República
A uma semana do segundo turno das eleições
presidenciais, que acontece no próximo domingo, dia 30, parte da hierarquia
católica resolveu se manifestar. Dessa vez, para se declararem publicamente
contra o atual presidente da República, Jair Bolsonaro. Os prelados dizem que a
motivação para a publicação do documento “está na defesa dos pequeninos, da
justiça e da paz”. Os bispos refutam as práticas adotadas por Bolsonaro,
mostrando que a postura do atual mandatário da República não condiz com os 10
mandamentos bíblicos.
Por
medo de represálias por parte dos apoiadores do candidato à reeleição, os
bispos resolveram não assinar o texto. Portanto, é um documento original, mas
redigido de maneira anônima.
Nossa
equipe de reportagem teve acesso à carta por meio de um dos bispos redatores,
que não quis se identificar, haja vista a onda de violência que tem se
registrado em alguns lugares do Brasil durante missas e eventos religiosos.
Eles têm medo de que, em suas dioceses, os fundamentalistas atentem contra sua
integridade física.
"Não
cabe neutralidade quando se trata de decidir entre dois projetos de Brasil: um
democrático e outro autoritário", enfatizam.
Sem
usar meias palavras, os bispos também rechaçam o terrorismo eleitoral praticado
por centros culturais, padres e influencers católicos contra os eleitores que
não apoiam o atual governo.
"O
chefe do governo e seus apoiadores, principalmente políticos e religiosos,
abusaram do nome de Deus para legitimar seus atos e ainda o usam para fins
eleitorais. O uso do nome de Deus em vão é desrespeito do segundo
mandamento", completam.
O
slogan da campanha de Bolsonaro, usado pelo presidente em 2018, também foi
criticado pelo grupo de prelados.
"Enquanto
dizia ‘Deus acima de tudo’, o presidente ofendia mulheres, debochava de pessoas
que morriam asfixiadas, além de não demonstrar compaixão alguma com as quase
700 mil vidas perdidas para a Covid-19 e com as 33 milhões de pessoas famintas
em seu país.
A
política do armamento, também defendida pelo atual governo, também foi mencionada
na carta.
"Os
discursos e medidas que visam armar todas as pessoas e eliminar os opositores
estão em contradição com o 5 mandamento, que diz "não matarás",
quanto com a Doutrina Social da Igreja, que propõe o desarmamento e diz que
"o enorme aumento das armas representa uma ameaça grave para a
estabilidade e a paz" (Compêndio da Doutrina Social da Igreja, 508).
Os
autores do documento, que se apresentam como "bispos do diálogo pelo
Reino", encerram lançando um apelo ao povo brasileiro, e explicando que
não se trata, dada a urgência da situação, de abraçar um projeto político, mas
de uma escolha ética.
"A
Igreja não tem partido, nem nunca terá, porém ela tem um lado, e sempre terá: o
lado da justiça e da paz, da verdade e da solidariedade, do amor e da
igualdade, da liberdade religiosa e do Estado Laico, da inclusão social e do
bem viver para todos. [...] Nossa motivação é ética e não decorre do seguimento
de um líder político, nem de preferências pessoais, mas vem da fidelidade ao
Evangelho de Jesus", concluem.
Veja a carta completa.
Mirticeli Medeiros
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