Enfeite em árvore de Natal | Pixabay
"Minha
senhora dona, um menino nasceu, o mundo tornou a começar"! (Guimarães
Rosa)
Élio Gasda
“Minha
senhora dona, um menino nasceu, o mundo tornou a começar”! (Guimarães Rosa).
Estima-se
que, a cada segundo quatro crianças nasçam no mundo. Na América, Europa,
Oceania, África, Ásia, Antártida ou Palestina, não importa, cada uma delas traz
esperança. Cada uma é presença do amor de Deus no mundo. São sagradas, únicas e
irrepetíveis.
“Jesus
nasce para todos e doa a toda a humanidade o amor de Deus” (Papa Francisco).
Amor incondicional e sem fronteiras de nenhum tipo: “Não há judeu nem grego,
escravo nem livre, homem nem mulher, pois todos são um em Cristo Jesus” (Gal
3,28). Irmão e irmãs, iguais, fraternos. Essa é a esperança do Natal! Não é uma
esperança romantizada, mas provocadora, ousada e corajosa. Natal nos questiona!
O
que vemos é um Natal padronizado pelo mercado, esvaziado pelo consumismo,
vulgar e violento com os mais pobres. Nas praças e Jardins luzes cintilantes
piscam e brilham enquanto no mundo quase 1 bilhão de pessoas vivem sem energia
elétrica (ONU). Outras luzes e estrondos armas, bombas e mísseis rasgam os céus
na Guerra da Ucrânia e de 28 conflitos e combates no mundo.
São
milhares de crianças refugiadas que perderam seus lares. 90 milhões de pessoas
no mundo forçadas a deixar suas casas. Sem terra, sem teto, sem trabalho. No
Brasil mais de 280 mil pessoas moram na rua e 6 milhões de família não possuem
moradia digna. Mais de 10 milhões vão passar o Natal sem trabalho. De um lado,
mesas fartas e desperdício! De outro, 828 milhões de pessoas afetadas pela fome
no mundo. 33 milhões são brasileiros.
Papa
Francisco nos explica que “o Presépio é um convite a sentir, a tocar a pobreza
que escolheu, para Si mesmo, o Filho de Deus na sua encarnação, tornando-se um
apelo para O seguirmos pelo caminho da humildade, da pobreza, do despojamento.
As ruínas e os pobres ali representados recordam que eles são os privilegiados
deste mistério. Não podemos deixar-nos iludir pela riqueza e por tantas
propostas efémeras de felicidade”.
“A
Palavra de Deus se fez carne e veio morar entre nós” (Jo, 1,14). Deus não está
mudo eternamente no seu mistério. Deus não se comunica conosco através de doutrinas
complicadas, regras morais ameaçadoras ou nos ameaçando com o inferno. O Deus
humanizado se une à nossa fraqueza. “Ele, existindo em forma divina, não se
apegou ao ser igual a Deus, mas despojou-se, assumindo a forma de escravo e
tornando-se semelhante ao ser humano” (Fl 2,6-8).
Deus
nos fala e nos olha em um bebê envolvido em faixas dentro de um estábulo
deitado numa ‘manjedoura’, palavra bonita para cocho de madeira usado para
alimentar vacas, jumentos, cavalos. A história da Encarnação de Deus acontece
“lá embaixo” nos cantinhos mais esquecidos do mundo. Em uma criança pobre, sem
estardalhaço e luxo.
Não
se pode adorar verdadeiramente a Deus no Natal e dar as costas aos necessitados
(1Jo 5,20). “Quem me vê, vê o Pai” (Jo 14, 9). Esse é o caminho para “conhecer”
a Deus.
Jesus
realiza o melhor de nós: Humanizar-se! Esse é o verdadeiro sentido do Natal. O
presente é Deus que se fez radicalmente humano. A vivência mais profunda do
Natal acontece no cotidiano. A convivência diária permite que cada um, cada uma
seja presença, doação, partilha, que compreenda e respeite o outro.
Que
Deus encontre o coração humano como lugar de nascimento. Que seja Ele acolhido
pelos presépios vivos. Que a tolerância, a compreensão, justiça e solidariedade
sejam os melhores presentes. Só haverá Natal quando houver dignidade, respeito
e paz para todos.
Natal
“é o tempo da inocência, da pureza, da mansidão, da alegria, da paz nos
encontre cada vez mais semelhantes Àquele que, neste tempo, Se tornou criança
por nosso amor; que em cada novo Natal nos encontre mais simples, mais
humildes, mais santos, mais caridosos, mais resignados, mais alegres, mais
repletos de Deus” (Cardeal Newman).
Jesus,
Humanamente divino e divinamente humano, levou a cabo a revolução mais
assombrosa que se produziu na história das religiões.
Um
Deus humanizado! Eis a base da fé cristã tantas vezes negada. Deus se humaniza
para que nós nos humanizemos e sejamos felizes. Em Seu mistério se revela nosso
mistério.
Deus
é uma Criança que brinca “... porque é de infância, meu filho, que o mundo
precisa” (Thiago de Mello).
Dom Total
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