
Batismo católico: várias dioceses católicas na Suíça e na Alemanha entregaram a responsabilidade do sacramento a leigos, sobretudo mulheres. Foto © Tom Adriaenssen/Wikimedia Commons.
A diocese católica alemã de Rotemburgo-Estugarda passou a instituir membros do laicado capacitados para presidir ao sacramento do batismo, a exemplo do que já se começou a fazer em março último, na diocese de Essen, no Rur, na parte oeste, e do que já acontece em várias dioceses na Suíça.
Na Alemanha, o bispo Franz-Josef Overbeck autorizou um grupo de 18 pessoas – 17 delas mulheres – a presidir aos batismos. Em geral, estas pessoas estão profundamente envolvidas em equipas pastorais paroquiais, acompanhando as famílias, os jovens, a catequese. Uma das investidas nessa função, formada em Teologia, dizia há dias ao jornal La Croix International que, até há pouco, “fazia a preparação com as famílias, mas tinha que deixar a celebração em si para o diácono ou o padre”.
“Agora acompanho as famílias até o fim. É um sentimento muito forte e uma verdadeira honra”, observou.
O direito canónico há muito que permite que leigos administrem o batismo, mas sempre em situações extremas. Neste caso, os prelados entendem que se está perante uma situação extrema, dada a falta crónica e acentuada de padres, não apenas nas paróquias, mas também em hospitais ou instituições de ação social.
Nos últimos meses, também a diocese de Rotemburgo-Estugarda anunciou que estava a adotar esta possibilidade, tendo começado a abrir inscrições de candidatos em novembro. Qualquer que seja a prática que já possuam, todos os que vierem a ser escolhidos terão de frequentar um curso de formação, não devendo poder presidir a batismos antes de outubro de 2023. O bispo local observou que está a seguir o que dispõe o direito canónico, mas também uma instrução do Vaticano, de 2020, sobre a reestruturação pastoral das paróquias, a qual prevê que a falta de presbíteros é uma justificação para autorizar leigos a presidir ao sacramento do batismo.
No caso alemão, em que outras dioceses estão a planear medidas análogas, o processo do Caminho Sinodal, que está em curso, tem sido um fator acrescido para incentivar estas experiências inovadoras. O bispo Matthäus Karrer, auxiliar da diocese de Fürst, citado no La Croix International, refere que este é também um caminho para promover a igualdade de género na Igreja Católica e acrescenta que esta reforma certamente não teria acontecido sem a “pressão da base” e sem a ação de um fórum de mulheres, formado no conselho diocesano.
Na Suíça de língua alemã, as dioceses de São Galo e Basileia, por exemplo, recorrem há algum tempo à possibilidade canónica de colocar, com uma delegação do bispo, homens e mulheres não ordenados a presidir aos batismos, ainda que haja diferenças na prática das várias dioceses. Essa possibilidade tem estado ausente na Suíça de língua francesa e na Suíça de língua italiana.
Estas mudanças na Igreja Católica suscitam reservas de alguns teólogos. Por exemplo, o padre austríaco Joachim Heimerl vê esta reforma mais como “uma politização e secularização da Igreja” do que uma forma de “garantir a administração dos sacramentos”. Para ele, com o caminho adotado, padres e diáconos “dificilmente voltarão a batizar”, afirmou. Por sua vez, Michael Seewald, professor de teologia dogmática na Universidade de Münster, considera que o argumento da falta de padres num tempo em que há poucas crianças não tem consistência. Trata-se, antes, segundo ele, de dar “um prémio de consolação às mulheres, por elas não poderem ser ordenadas, ao mesmo tempo que “o sacerdócio é marginalizado”.
Posição mais compreensiva tem o teólogo francês Jean-François Chiron que reconhece, numa coluna publicada no diário francês La Croix, que “estamos aqui numa situação de escassez e reposição”, devido à falta de clero. Por uma questão de simbolismo e de valorização do sacramento, “se voltasse a haver mais padres, ser-lhes-ia retirada a possibilidade dada aos leigos de serem ministros ordinários do batismo”, considera o teólogo.
O episcopado da Suíça, que tem vindo a fazer um caminho de discernimento com a Liga Suíça das Mulheres Católicas, organizou com esta instituição um simpósio no início de setembro último, reunindo responsáveis e animadores de comunidades, clero e teólogos.
A reunião destinou-se a refletir sobre os sete sacramentos, do ponto de vista prático, teológico, canónico, pastoral e litúrgico, procurando ir ao encontro de experiências e dificuldades de quem está no terreno, nos diferentes contextos pastorais.
No simpósio, foi decidido pelos bispos que alguns aspetos ali refletidos seriam assumidos no quadro do processo sinodal que a Igreja Católica está a viver.
Fonte: Setemargens
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