Decoração de árvore de Natal | Pixabay
Deus se revela aos humildes
Fabrício Veliq*
Neste
próximo final de semana, grande parte do Ocidente celebra o Natal.
Possivelmente, este será mais um texto refletindo sobre a data, dentre tantos
outros que também farão o mesmo. Afinal, as datas comemorativas, e
principalmente o Natal, nos fazem pensar sobre o cotidiano e refletir sobre
elas.
Falar
do Natal, por sua vez, implica a lembrança da narrativa do nascimento de Jesus,
ainda que qualquer pessoa que estude a Bíblia e a história de uma maneira mais
aprofundada saiba que Jesus não nasceu no mês de dezembro. Mas, mais importante
do que a data exata (algo que nunca sabermos), é a mensagem trazida pelos
evangelistas que colocaram tal narrativa em seus escritos.
Em
Mateus, vemos uma narrativa que foca em Jesus como sendo o cumprimento das
promessas de Deus a Israel. Alguns elementos podem nos dar esses indícios, tais
como o fato de ter iniciado seu texto com uma genealogia de Jesus, mostrando-o
como aquele que descendia da linhagem de Davi e, portanto, o Messias esperado
pelo povo; ou a presença dos magos que vieram do Oriente e entregaram seus
presentes ao bebê nascido, simbolizando a promessa de que todos os povos se
prostariam diante de Javé; ou ainda, ao fazer o contraponto entre Jesus, o novo
Moisés, e o antigo, ao relatar que assim como o primeiro Moisés havia sido
ameaçado de morte pelo rei quando era uma criança, tendo sido criado no Egito,
lugar do qual sairá depois, libertando o povo de Israel, também Jesus precisa
ir para o Egito fugindo de Herodes, para depois retornar para sua terra, trazendo
a salvação ao povo. O paralelo entre Moisés e Jesus se mostra uma importante
chave de leitura para compreensão do Evangelho de Mateus, algo que,
aparentemente, o autor deixa claro desde a narrativa do nascimento.
Em
Lucas, por sua vez, vemos uma narrativa diferente. Não se fala de sua
genealogia, nem cita os magos que vieram do Oriente para entrega de presentes.
Nada disso parece ser importante para o propósito lucano. Seu foco está tanto
em falar do nascimento de João Batista, colocando este como precursor do
Messias, como o Elias que haveria de “preparar ao Senhor um povo bem disposto”
, conforme Lucas 1,17, como apresentar Jesus como aquele que é concebido pelo
Espírito e, consequentemente, como mostrado em Atos, aquele que dispensa o
Espírito para a formação da comunidade dos que creem. A revelação do
nascimento, por sua vez, não se deu nos palácios. Lucas nem relata que Herodes
ficou sabendo disso, mas tal anúncio é feito aos pastores que estavam no campo,
que seguem a caminho de Belém, encontram o menino e voltam glorificando a Deus.
Lucas
também faz questão de falar da circuncisão de Jesus, bem como do cumprimento da
lei por parte dos pais, e ainda das personagens de Simeão e Ana, que dão
testemunho a respeito da salvação que chega por meio desse menino que nasce.
Mesmo
que os relatos sejam diferentes, uma vez que, claramente, foram escritos para
comunidades diferentes, com questões e problemas diferentes, a tônica da
salvação por meio desse menino que nasceu é comum. Seja apresentando Jesus como
o novo Moisés, seja falando de Jesus como aquele concebido pelo Espírito de
Deus, ambos querem mostrar que Deus não se esqueceu de sua promessa feita ao
seu povo, mas em seu tempo, promoveu a salvação, que foi reconhecida somente
por aquelas pessoas que estavam atentas aos sinais dos tempos, tais como os
magos, os pastores, Simeão e a profetisa Ana. Em outras palavras, a salvação é
anunciada aos estrangeiros, aos humildes, às mulheres, e reconhecida por meio
do Espírito de Deus.
Mesmo
com as diferenças narrativas, a mensagem permanece do Natal permanece: Deus não
se esqueceu da sua criação, e por meio do seu Espírito nos faz perceber que sua
salvação se faz presente por meio de Jesus.
Feliz
Natal.
Dom Total
*Fabrício
Veliq é protestante e teólogo. Doutor em Teologia pela Faculdade Jesuíta de
Belo Horizonte (FAJE), Doctor of Theology pela Katholieke Universiteit Leuven
(KU Leuven), Bacharel e Licenciado em Filosofia e Licenciado em Matemática
(UFMG). É coautor do livro: Teologia no século 21: novos contextos e fronteiras.
Editora Saber Criativo. E-mail: fveliq@gmail.com. Site:
www.fabricioveliq.com.br.
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