O PODER TRANSFORMADOR DA ESPERA
Celebrar o Natal não é apenas lembrar
o nascimento de Jesus | Pixabay
O
evangelho proclamado no dia do Natal diz que a Palavra de Deus se faz carne,
isso é, assume a realidade humana das culturas
• Marcelo Barros*
O
Brasil vive a expectativa de um novo governo que restabeleça o diálogo entre
governo e sociedade civil, retome o cuidado com a vida das pessoas e com a
natureza, ao mesmo tempo que priorize a atenção às comunidades dos povos
originários e à vida das pessoas e grupos mais vulneráveis. No ambiente das
Igrejas, as mais antigas dedicam as quatro semanas antes do Natal a cultivar a
expectativa da realização do projeto divino no mundo.
Celebrar
o Natal não é apenas lembrar o nascimento de Jesus. É um modo de afirmar que a
promessa feita por Deus de um mundo renovado pela justiça e pela paz é atual e
possível. Ele se realiza por iniciativa divina, mas através de nós. Por nosso
modo de viver, devemos testemunhar que ele vem e podemos apontar sinais
concretos de sua vinda. Podemos ver sinais da madrugada que vem mesmo na mais
escura das noites.
No
tempo da ditadura brasileira, Geraldo Vandré cantava: “Quem sabe faz a hora.
Não espera acontecer”. Ele tinha razão em rejeitar uma esperança passiva e
acomodada de quem, passivamente, espera que, por si mesmas, as coisas
aconteçam. Não é essa a perspectiva da fé cristã. Menos ainda a nossa forma de
viver esse tempo de espera, ao qual, cada ano, a celebração do Natal nos
convida. Desde antigamente, as Igrejas denominam as semanas anteriores ao Natal
de tempo do Advento. Em latim, advento significa “vinda”. Conota um modo de
esperar muito particular. Propõe aguardarmos a realização do projeto divino no
mundo, do mesmo modo como, a cada noite, o guarda noturno espera ansiosamente
que o dia desponte. Essa espera vigilante é ativa e colabora para que o dia nasça
em paz. A tradição cristã acentua: a manifestação da presença de Jesus em nós
marcará a realização do projeto divino de Paz e Justiça eco-social no mundo.
É
preciso interpretar a fé e ler a Bíblia como revelação desse projeto divino no
mundo. Há cristãos que se mantêm na fé por costume ou por conveniência
religiosa. Apesar de serem pessoas religiosas, não veem claro esse projeto
divino em suas vidas. Por causa disso, muitas vezes, não têm clara a sua missão
no mundo. Falta-lhes um motivo maior pelo qual viver. Ao mesmo tempo, há
pessoas não religiosas que não creem em Deus e, de algum modo, descobrem em
suas vidas, esse projeto de paz, justiça e cuidado amoroso da natureza.
O
evangelho proclamado no dia do Natal diz que a Palavra de Deus se faz carne, isso
é, assume a realidade humana das culturas. A Palavra Divina se faz diálogo.
Neste Natal todas as comunidades cristãs são chamadas a superarmos os
fanatismos, deixarmos de lado os discursos de ódio e podermos constituir para
toda a sociedade serem espaço de diálogo e de reconciliação na construção de um
Brasil mais justo e inclusivo. Nossas Igrejas têm uma dívida histórica com a
sociedade e especialmente com as classes trabalhadoras, as comunidades
afrodescendentes e os povos originários. Este Natal precisa ser um passo
decisivo na emergência do “Filho do Homem” que Jesus encarnou e que deseja ver
resplandecer em nós como humanidade nova, expressão de um universo movido pelo
amor e pelo cuidado com a Vida.
DomTotal
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