Papa Francisco em consistório para a nomeação de
novos cardeais, em 2020 | ANSA
A luta do
papa para vencer o espírito da corte curial
Mirticeli Medeiros*
Que há
muitas pessoas que se aproximam do Papa Francisco por conveniência isso a gente
não pode negar. Aliás, todo pontífice teve que lidar com os falsos apoiadores.
A cúria romana em si é um antro de carreiristas. Portanto, não seria novidade
apontarmos que dentro desse ambiente, repleto de “vícios de corte”, um jogo de
intrigas e disputas ora se manifeste de maneira bastante explícita, ora de
maneira velada.
No
pontificado de Bento XVI, por exemplo, citamos o caso do cardeal Bertone. No de
Francisco, por sua vez, o de Georg Gänswein, ex-secretário pessoal de Papa
Ratzinger, e do cardeal australiano Georg Pell, que até sua morte, ao menos
publicamente, nunca havia se oposto abertamente ao pontífice argentino.
Que
Francisco não é bem quisto por muitos grupos da Cúria Romana, isso a gente já
sabe. A questão está em analisar quem realmente está do lado dele e até que
ponto existe uma adesão sincera a seu projeto de reforma. Ou seja, a questão
agora está em checar por onde andam os inimigos que dão tapinha nas costas do
Papa. E há muitos desses, que inclusive ocupam cargos-chave dentro da cúria.
As
próprias nomeações de padres para a Secretaria de Estado que, no passado, eram
abertamente contrários à linha de governo do papa atual, impressionam.
Nesse
sentido, não entendemos se é uma estratégia de Francisco para que eles estejam
sob sua vigilância ou se, de fato, o pontífice argentino esteja já na fase de
delegar algumas pessoas para se encarregarem dessas nomeações.
Sabemos,
por exemplo, que, quando o assunto é América Latina, é o cardeal Óscar
Rodríguez Maradiaga, de Honduras, quem acaba exercendo um papel preponderante
na hora de decidir quais latino-americanos são dignos de integrar o grupo de
colaboradores do Papa em Roma.
Agora
sim, sem dúvida, podemos falar de uma solidão vivida pelo Papa Francisco. As
resistências à sua reforma, nos últimos anos, só se intensificaram. Além disso,
muitos daqueles sobre os quais ele depositou uma certa confiança acabaram
abandonando o barco. Uns por não conseguirem lidar com as disputas internas;
outros por estarem apegados a um modelo de igreja que não corresponde ao
“poliedro” que Papa Francisco propõe.
Isso faz
com que as cartas jogadas no próximo conclave ainda sejam incertas, muito
embora, aparentemente, o grupo de cardeais pró-Francisco seja expressivo. O que
podemos esperar, nos próximos anos, é uma oposição silenciosa, mas bastante
consolidada, que fará de tudo para apagar o legado de Francisco. É esperar para
ver.
Mirticeli Medeiros
*Mirticeli
Medeiros é jornalista e mestre em História da Igreja pela Pontifícia
Universidade Gregoriana de Roma. Desde 2009, cobre o Vaticano para meios de
comunicação no Brasil e na Itália e é colunista do Dom Total, onde publica às
sextas-feiras.
Fonte:domtotal
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