“Será
que uma mãe quer castigar os seus filhos, enviando-lhes doenças, a morte…? Nem
pensar. Por isso, as aparições que falam de castigos de Deus são absolutamente
falsas”
As
aparições de Maria que falam de castigos de Deus” são absolutamente falsas”,
afirma o padre franciscano Stefano Secchin, presidente da Pontifícia Academia
Mariana Internacional (PAMI), em entrevista a Alfa & Omega, uma publicação de informação católica
vinculada ao Arcebispado de Madrid.
O
presidente da PAMI falava sobre o trabalho de um projeto que acaba de ser
apresentado pela Academia – o Observatório Internacional das Aparições e Fenómenos
Místicos ligados à Virgem Maria – que visa, entre outros objetivos, “aconselhar
as igrejas locais e os bispos sobre os casos em estudo, sempre em contacto com
instituições académicas, tanto seculares como eclesiásticas”.
Sempre
que surgem casos de aparições, explica Stepfano Secchin, eles “são examinados
de forma interdisciplinar, numa perspectiva científica”, por uma comissão
composta por médicos, advogados, psicólogos…
Aspetos
como a moralidade dos videntes, o seu estado físico e mental ou a existência de
condicionamentos ou interesses externos são passados à lupa. Com base na
informação recolhida, cada membro da comissão pronuncia-se por escrito e emite
o seu voto, positivo ou negativo. De seguida, “este material é entregue ao
bispo, para que ele decida”, esclarece o presidente do PAMI.
A
acompanhar o trabalho desta Comissão, está uma Comissão Científica, composta
por 14 especialistas, entre os quais o diretor do departamento de Estudos do
Santuário de Fátima.
Os
bispos, a quem cabe a decisão final, são os primeiros a carecer deste tipo de
peritagem e a necessitar de suporte sólido para a decisão a tomar, segundo o
frade franciscano. “Muitas vezes, explica, eles são confrontados com situações
destas e não sabem o que fazer, não estão preparados. Ou negam o fenómeno, ou
são demasiado rápidos a dar-lhe um ar positivo; outras vezes são muito
condescendentes”.
O
Observatório foi criado, precisamente, como resposta a todos os problemas e
confusões criados por algumas falsas aparições”, que o entrevistado tipifica:
“gente que se quer aproveitar da credulidade das pessoas e da sua dor”, e até
“máfias, que sabem que os santuários são uma fonte de dinheiro”.
Desde
1978 que a Santa Sé adotou um protocolo de
“regras claras” para lidar com a situação. As suspeitas de falsidade podem vir
de vários fatores. “Mas há sinais de alerta”, diz o diretor do Observatório.,
que exemplifica: “Será que uma mãe quer castigar os seus filhos, enviando-lhes
doenças, a morte…? Nem pensar. Por isso, as aparições que falam de castigos de
Deus são absolutamente falsas”.
Secchin,
ele próprio doutorado em Mariologia, refere que a Pontifícia Academia Mariana é
um organismo que depende diretamente da Cúria Romana, com competência
específica no assunto da figura de Maria, contando com académicos acreditados
pela Santa Sé.
Perguntado
sobre o papel do Papa nestes processos, o presidente esclarece que ele não tem
necessidade de aprovar ou não as aparições, uma vez que se trata de “revelações
privadas”, que “não acrescentam nem diminuem as revelações públicas”. Adianta,
por outro lado, que, enquanto para a Igreja “existem aparições e fenómenos
místicos”, “no campo do Direito Canónico, a palavra aparição não existe”; no
discurso jurídico o que existe é o “lugar de peregrinação”. São coisas
diferentes, como se pode ver no caso Medjugorje, no Sul da Bósnia e
Herzegovina, em que a aparição não seja aprovada e o lugar de peregrinação
seja.
Fátima
participa no observatório através do diretor do museu
O
diretor do departamento de estudos do Santuário de Fátima, Marco Daniel Duarte,
é uma das 14 personalidades que integram o comité científico central do
Observatório Internacional sobre as Aparições e os Fenómenos Místicos
ligados à figura da Virgem Maria recentemente criado pelo Vaticano.
De
acordo com comunicado enviado
pelo santuário à redação do 7MARGENS, Marco Duarte é doutorado em História de
Arte e dirige o museu, o arquivo e a biblioteca do Santuário de Fátima.
O
Observatório que Marco Duarte vai integrar foi apresentado em Roma, no dia 3
de maio e visa, segunda a agência Vatican News “fornecer apoio académico
interdisciplinar envolvendo teologia, medicina mariológica, comunicação,
medicina e direito”, e também “formar agentes pastorais e agentes dos média”,
estando, “acima de tudo, ao serviço dos mais frágeis e mais facilmente
enganados.
O
Observatório tem, assim, a missão de “analisar e interpretar situações diversas
relacionadas com aparições, sejam as já reconhecidas pela Igreja sejam as que
ainda carecem de pronunciamento sobre a sua autenticidade” com o objetivo de
“ajudar a formar um conhecimento crítico” sobre as aparições relatadas.
Há quem tema
por Fátima e outros locais de aparições
Setores
tradicionalistas têm-se manifestado contra a orientação da Academia Mariana
impulsionada pelo padre Secchin e, particularmente, contra as declarações
acerca dos “castigos de Deus” como critério de falsidade das aparições.
Num
artigo publicado no site InfoCatolica, repleto de comentários ofensivos
para aquele responsável da Academia Mariana e para o próprio Papa, comenta-se,
sem contextualizar, que, se esse fosse um critério, Fátima, Akita e La Salette
“seriam falsas”. Cabe perguntar se pensam declarar falsas as aparições nesses
três locais, diz-se no site.
O
texto cita, depois, as alegadas palavras proferidas por Maria, na terceira
aparição de Fátima, em 13 de julho de 1917, sobre “o grande sinal de Deus” de
que “vai castigar o mundo pelos seus crimes, através da guerra, da fome e da
perseguição à Igreja e ao Santo Padre”; em Akito, no Japão, sobre “o Pai
Celestial” que “se prepara para infligir um castigo sobre toda a humanidade”,
para que este “conheça a sua ira”; e ainda em La Salette, nos Alpes franceses,
em meados do séc. XIX, sobre a “mão pesada de Jesus” sobre a gente que não
cumpria os mandamentos de Deus nem os da Igreja.
Fonte:setemargens
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