Foi publicada no domingo, 15 de
outubro, a Exortação Apostólica do Papa Francisco “C’est la Confiance” (“Só a
Confiança”) dedicada a Santa Teresa do Menino Jesus e da Santa Face no
aniversário de 150 anos do seu nascimento em Alençon, na França. O seu “caminhito”
exorta a acreditar no amor infinito de Deus e a viver o encontro com Cristo na
abertura aos outros. “No Coração da Igreja, minha Mãe, eu serei o Amor!”,
escrevia Teresinha, que morreu com apenas 24 anos e foi proclamada padroeira
das missões.
“Só a confiança e nada
mais do que a confiança tem de conduzir-nos ao Amor”. A essas palavras,
escritas em setembro de 1896 por Santa Teresinha do Menino Jesus e da Santa
Face, se inspira o título da Exortação Apostólica que o
Papa Francisco dedica à santa de Lisieux: “C’est la confiance” (Só
a confiança). Palavras que, segundo ele, “sintetizam a genialidade da sua
espiritualidade e seriam suficientes para justificar o facto de ter sido
declarada Doutora da Igreja”.
Uma mensagem que faz parte do
tesouro espiritual da Igreja
Francisco explica a escolha de
publicar a Exortação no domingo, 15 de outubro, e não em uma data ligada à vida
da Santa conhecida e amada em todo o mundo, mesmo pelos não crentes. O motivo é
o desejo de que “a mensagem se situe além das ocorrências e seja assumida como
parte do tesouro espiritual da Igreja”. A data da publicação cai, porém, na
memória de Santa Teresa de Ávila para indicar Santa Teresinha como “fruto
maduro” da espiritualidade da grande santa espanhola.
Os reconhecimentos dos Pontífices
O Papa Francisco reconstitui as
etapas do reconhecimento do extraordinário valor do testemunho espiritual de
Teresinha através das ações dos Pontífices: começando com o Papa Leão XIII, que
permitiu que ela entrasse no convento aos 15 anos; passando por Pio XI, que a
proclamou santa em 1925 e, em 1927, padroeira das missões; até São João Paulo
II, que a declarou Doutora da Igreja em 1997. “Por fim”, lembra Francisco,
“tive eu a alegria de canonizar os seus pais Luís e Célia durante o Sínodo da
família e, recentemente, dediquei-lhe uma Catequese”.
O amor por Jesus de uma alma
missionária
Em sua cela, a Santa de Lisieux
havia escrito: “Jesus é o meu único amor” e, analisando sua experiência
espiritual, o Papa observa que o encontro com Jesus “a chamava para a missão”,
tanto que não concebia “a sua consagração a Deus sem a busca do bem dos
irmãos”.
Ela havia entrado no Carmelo, de
fato, “para salvar as almas”. Teresinha expressou assim a sua alma missionária:
“Estou certa de que quanto mais o fogo do amor abrasar o meu coração, tanto
mais (…) as almas que se aproximarem de mim (pobre pedacito de ferro inútil, se
me afastasse do braseiro divino), correrão, ligeiras, ao odor dos perfumes do
seu Bem-amado, pois uma alma abrasada de amor não pode ficar inativa”.
O caminhito da
confiança e do amor
Francisco vai ao coração da
espiritualidade de Teresa, aquele “pequeno caminho” também conhecido como o
caminho da infância espiritual. Santa Teresa do Menino Jesus escreveu: “O
ascensor que me há de elevar até ao Céu são os vossos braços, ó Jesus! Para
isso não tenho necessidade de crescer; pelo contrário, é preciso que eu permaneça
pequena, e que me torne cada vez mais pequena”.
O que conta para ela é a ação de
Deus, a graça, não os méritos pessoais, porque é o Senhor que santifica. O Papa
escreve: “Por isso, a atitude mais adequada é depositar a confiança do coração
fora de nós mesmos, ou seja, na infinita misericórdia de um Deus que ama sem
limites e que deu tudo na Cruz de Jesus. Daí que Teresa nunca usa a expressão,
frequente no seu tempo, «hei de fazer-me santa»”.
O abandono nas mãos de um Pai
Em nossa existência, onde muitas
vezes, diz Francisco, “nos dominam os medos, o desejo de seguranças humanas, a
necessidade de ter tudo sob controle”, a confiança e, portanto, o abandono em
Deus que Teresa promove “liberta-nos de cálculos obsessivos, da preocupação
constante com o futuro, dos medos que tiram a paz. (…) Se estamos nas mãos dum
Pai que nos ama sem limites”, continua ela, isso será verdade “venha o que vier
havemos de o ultrapassar e, duma forma ou doutra, cumprir-se-á na nossa vida o
seu projeto de amor e de plenitude”.
A “prova contra a fé” e a confiança
na misericórdia
A vida espiritual da jovem carmelita
não foi isenta de provações e lutas, particularmente no último período de sua
vida, ela experimentou a grande “provação contra a fé”. Naquela época, o
ateísmo moderno estava experimentando uma grande expansão e ela “se sente irmã
dos ateus”, intercede e oferece a vida por eles, renovando o seu ato de fé. Ela
acredita na infinita misericórdia de Deus e na vitória definitiva de Jesus
sobre o mal: a sua confiança obtém a graça da conversão na forca de um
assassino múltiplo.
Tudo em Deus é amor, até mesmo a
Justiça. “Esta é uma das descobertas mais importantes de Teresinha”, diz o
Papa, “um dos maiores contributos que prestou a todo o Povo de Deus. De modo
extraordinário, penetrou nas profundezas da misericórdia divina e, de lá,
retirou a luz da sua ilimitada esperança”.
A maior caridade na maior
simplicidade
Santa Teresa quer “alegrar” o
Senhor, quer corresponder ao amor de Jesus. “tem a viva certeza de que Jesus a
amou e conheceu pessoalmente na sua Paixão”, escreve o Papa Francisco,
“contempla o amor de Jesus por todos e por cada um como se fosse único no
mundo”. E sobre ela, continua: “vive a caridade na pequenez, nas coisas mais
simples da existência de cada dia, e fá-lo em companhia da Virgem Maria,
aprendendo d’Ela que «amar é tudo dar, e dar-se a si mesmo»”.
No Coração da Igreja, minha Mãe,
serei o Amor
De Santa Teresa de Ávila, Teresinha
herdou, lemos na Exortação, “um grande amor pela Igreja, chegando a atingir as
profundezas deste mistério”. Ela escreve em História de Uma Alma:
“compreendi que a Igreja tinha um coração e que esse coração estava inflamado
de amor. Entendi que somente o Amor fazia os membros da Igreja agirem”. E
então: “Sim, encontrei meu lugar na Igreja (…) No Coração da Igreja, minha Mãe,
eu serei o Amor!”. O Papa Francisco comenta: “Não é o coração duma Igreja
triunfalista, mas o coração duma Igreja amante, humilde e misericordiosa”. Ele
acrescenta: “Tal descoberta do coração da Igreja é uma grande luz também para
nós hoje, a fim de não nos escandalizarmos por causa das limitações e fraquezas
da instituição eclesiástica, marcada por obscuridades e pecados, e entrarmos no
seu coração ardente de amor, que se incendiou no Pentecostes graças ao dom do
Espírito Santo”.
O dom total aos outros
As provações interiores vividas por
Santa Teresinha, que às vezes a levaram ao ponto de se perguntar “se haveria
céu”, levaram a Santa a “passar de um fervoroso desejo do Céu para um constante
e ardente desejo do bem de todos”, e à resolução de continuar sua missão mesmo
após a morte. “Desta forma”, lemos na Exortação, “chegava à última síntese
pessoal do Evangelho, que partia da plena confiança para culminar no dom total
aos outros”. “É a confiança”, escreve o Papa, “que nos conduz ao Amor e assim
nos liberta do temor; é a confiança que nos ajuda a desviar o olhar de nós
mesmos; é a confiança que nos permite colocar nas mãos de Deus aquilo que só
Ele pode fazer. Isto deixa-nos uma imensa torrente de amor e de energias
disponíveis para procurar o bem dos irmãos”.
No final, conta só o amor
No último capítulo, o Pontífice
explica que esta Exortação Apostólica lhe permite recordar que, como lemos
na Evangelii gaudium, em uma Igreja missionária “o anúncio
concentra-se no essencial, no que é mais belo, mais importante, mais atraente
e, ao mesmo tempo, mais necessário” (47). “Em última análise”, escreve o Papa,
“conta só o amor”.
Para Francisco, “o contributo
específico que Teresinha nos oferece como Santa e como Doutora da Igreja ” é
“levar-nos ao centro, àquilo que é essencial”. O Papa se dirige aos teólogos,
aos moralistas e aos estudiosos da espiritualidade e diz: “temos ainda
necessidade de acolher esta intuição genial de Teresinha e tirar as devidas
consequências teóricas e práticas, doutrinais e pastorais, pessoais e
comunitárias. São precisas audácia e liberdade interior para o poder fazer”.
A atualidade do “caminhito”
Aproximando-se da conclusão, o Papa
recorda os principais aspectos do seu “caminhito” e sua atualidade. Em uma
época marcada pelo fechamento nos próprios interesses, pelo individualismo e
pela obsessão do poder, ela nos mostra a beleza de fazer da vida um dom, indica
o valor da simplicidade e da pequenez e o primado absoluto do amor “superando
uma lógica legalista e moralista que enche a vida cristã de obrigações e
preceitos e congela a alegria do Evangelho”. A Exortação se encerra com uma
breve oração na qual, entre outras coisas, o Papa invoca:
“Amada Santa Teresinha,
Ajudai-nos a ter sempre
confiança,
Como fizestes vós,
No grande amor que Deus tem por
nós,
Para podermos imitar cada dia
O vosso caminhito de
santidade”.
Confira (aqui) a Exortação
Apostólica na íntegra.
Fonte : Vatican News
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